As Têmporas de Santa Luzia, uma tradição esquecida
Hoje trazemos aqui uma tradição associada às Têmporas de Santa Luzia. Em outros tempos, ela era muito conhecida nas terras do Minho, onde muitas outras tradições como esta costumavam existir - relembre-se, por exemplo, o famoso caso da oração de Santa Bárbara que afasta as trovoadas - mas parece estar hoje quase completamente esquecida. O último registo que encontrámos dela tem mais de um século, razão pela qual sentimos que poderíamos aqui apresentá-la de uma forma breve.
Segundo esta tradição das Sortes ou Têmporas de Santa Luzia, o povo deveria prestar muito especial atenção ao tempo que fazia no dia dessa santa - ou seja, o dia de hoje, o dia 13 de Dezembro - porque ele profetizava, de certa forma, o tempo que ia fazer em Janeiro do ano seguinte. Depois, a ideia prolongava-se pelos dias seguintes - 14 de Dezembro equivaleria a Fevereiro, 15 de Dezembro a Março, e assim por diante. Se, por exemplo, chovesse bastante a 24 de Dezembro, isso queria dizer que todo o mês de Dezembro no ano seguinte seria também ele muito chuvoso. Desconhecemos até que ponto isto permitia mesmo prever o tempo, fica o convite para que algum leitor o tente, mas esta quadra associada a Santa Luzia até parece ter sido proverbial em outros tempos - recorde-se a expressão "De Santa Luzia ao Natal, um salto de pardal, de Natal a Janeiro, um salto de carneiro", de que cá falámos em 2019.
Hoje, talvez tudo isto nos pareça uma palermice, mas tradições como esta das Sortes ou Têmporas de Santa Luzia parecem ter sido importantes no tempo em que ainda não existiam verdadeiros serviços de meteorologia. É provável que chovesse sempre, ou pelo menos bastantes vezes, durante este período de 13 a 24 de Dezembro, o que talvez permitisse aos trabalhadores dos campos terem algum cuidado adicional com as suas culturas, mas... à medida que os tempos foram evoluindo, tentar controlar o tempo desta forma foi perdendo importância, o que levou a que tradições como estas fossem esquecidas, por já não serem consideradas necessárias... e, hoje, já quase ninguém nelas pensa ou delas se recorda. Ou, sendo muito mais directos e sinceros, talvez apenas os mais idosos ainda se lembrem disto, com uma espécie de memória muito vaga dos seus tempos de juventude, algo de que apenas "Os Antigos" lhes falavam, mas a que já nem eles prestavam qualquer atenção!