Bernardim Ribeiro e "Menina e Moça"
Bernardim Ribeiro, conhecido hoje quase apenas como o autor da novela pastoril Menina e Moça, é uma figura sobre a qual hoje se sabe muito pouco. A sua vida, mais do que composta por factos, é-o quase somente por opiniões, inferências, sugestões e um constante carácter de quase-lenda. Como tal, é muito difícil saber-se seja o que for sobre ele, até que se explore a novela que escreveu e que originalmente até tinha o título de Saudades - o seu nome alternativo vem da primeira frase da obra, i.e. Menina e moça me levaram de casa de minha mãe para muito longe.
Reza então uma espécie de lenda que Bernardim Ribeiro, o poeta, se apaixonou por uma familiar. Esta, impedida de casar com ele por ordem paterna, acabou por casar com outro homem, que faleceu pouco depois. Desiludida com a vida, esta apaixonada fugiu do mundo e escondeu-se de toda a humanidade, supostamente num convento, onde acabaria louca. E o poeta, esse, morrendo de amores no seu peito, escreveu sobre tudo isto a obra que viria a ficar conhecida como Menina e Moça. Ou seja, trocando-se por miúdos toda esta situação, se sabemos muito pouco sobre o autor, pegando-se no que ele escreveu nesta sua maior obra e reinterpretando-a como uma espécie de autobiografia, em que as personagens são agora anagramas de aqueles que as inspiraram (e.g. o autor torna-se Binmander, a amada fica convertida em Aónia, e assim por diante), passa a encontrar-se uma suposta e dolorosa história de amor na própria vida de quem escreveu todo o texto. Porém, onde termina essa suposta ficção e começa a realidade, é algo que temos de admitir que se desconhece por completo, i.e. tudo isto poderá ser somente uma enorme ficção e absolutamente nada mais.
Hoje, Bernardim Ribeiro, autor desta Menina e Moça, continua a ser famoso por esta sua obra, tal como por alguns poemas da sua autoria presentes no Cancioneiro Geral. Deu nome a ruas e a um teatro, mas continua sem se saber muito bem quais são os verdadeiros factos da sua vida e aqueles que apenas lhe são atribuídos, de forma indirecta, pela leitura das suas obras. Assim, são atribuídos à vida do escritor um conjunto de eventos que até poderá não ter tido, gerando uma espécie de lenda nacional a que Teófilo Braga um dia chamou os "Amores de Bernardim Ribeiro" - mas deixe-se claro, já hoje e agora, que os eventos do parágrafo anterior são provavelmente os de uma pura lenda, e pouco ou nada mais, devendo admitir-se que a vida do compositor desta obra se encontra envolta num enorme nevoeiro dos tempos...