"Cena de Cipriano", atribuída a São Cipriano
É provável que já tenham ouvido falar desta Cena de Cipriano, atribuída a São Cipriano de Cartago (que não deve ser confundido com o outro santo do mesmo nome, Cipriano o Mago), em particular devido ao papel que tem na novela O Nome da Rosa, de Umberto Eco. Mas, afinal de contas, do que fala ela? Essencialmente, trata-se de um jocoso banquete de casamento, em que um rei convidou as mais diversas figuras bíblicas para participar. Depois, a cada nova acção do rei essas figuras respondem das mais diversas formas. Até aqui não de muito novo, ou particularmente interessante, não fosse o facto dessas acções nos remeterem, de forma disfarçada, para as características e episódios bíblicos de cada uma delas.
Vamos a três pequenos exemplos? Numa dada altura são oferecidas novas roupas aos convidados; Jesus toma uma veste com a cor de uma pomba, remetendo-nos para a figura do Espírito Santo. Mais à frente, aos convidados é pedido que reajam de forma contrário à habitual; Caim morre, em vez de matar alguém, numa alusão ao famoso episódio bíblico em que matou o irmão. Finalmente, depois de beber algum vinho Judas trai alguém, numa referência tão óbvia que dispensa maiores apresentações.
De uma certa forma, este texto é uma espécie de "quem é quem?" dos textos bíblicos, em que em detrimento de se perguntar "Tem óculos? Tem cabelo castanho? Tem olhos azuis", somos instados a interrogar-nos sobre relações como "Porque razão José corta uma árvore? Que têm Adão e um figo em comum? Porque se senta Pedro próximo de um galo?". Estas são respostas fáceis de dar, para quem conhecer minimamente o cânone bíblico, mas muitas outras das apresentadas indirectamente na obra implicam um conhecimento muito maior das personagens e respectivas históricas. Por isso, por muito que seja uma obra com uma certa piada - como já O Nome da Rosa nos indicava - não é de leitura simples.