Como é o baptismo das bruxas?
Se já cá falámos várias vezes sobre as bruxas, uma questão pode permanecer - como é que alguém se torna uma bruxa? Como é o baptismo das bruxas? Que juramentos fazem elas, para ganharem os seus agora-famosos poderes? Claro que vemos muito essas coisas na cultura popular, em séries de televisão e em alguns livros, mas serão esse eventos mera ficção, ou até têm um fundo de realidade?
Inesperadamente, o juramento ficcional que tanto vemos na cultura popular até tem um fundamento real. Segundo um documento nacional, datado de 1559 e que é conhecido como Confissão de umas bruxas que se queimaram na cidade de Lisboa, aquelas que se diziam feiticeiras tinham de passar por um ritual específico que, depois, as tornava bruxas, numa espécie de pós-graduação. Surgiam-lhes, supostamente, três demónios a transportar um livro que não tinha uma única folha branca, e de onde deviam ler um conjunto de promessas que faziam ao Diabo:
Prometes e juras que nunca servirás, nem adorarás, outro deus senão nós?
Renegas Deus e o baptismo que recebeste? [I.e. supõe-se, naturalmente, que a crente nestas coisas já tinha sido baptizada na Igreja Católica]
Prometes nunca deixares de fazer o nosso mandado?
Prometes não nomear o nome de Jesus de nenhum modo ou maneira, e nunca confessares a verdade, mesmo que te confesses [a um padre]?
Prometes apartares-te de Deus, e nunca teres amizade com ele, e lhe fazeres quando mal puderes?
(...)
Naturalmente que a pessoa, quase sempre do sexo feminino, deveria responder afirmativamente a todas estas questões. Depois, tinha relações sexuais com o Diabo, era-lhe dado um sinal corporal do seu juramento, recebia algumas prendas para recordação do que tinha feito, e até jantava sumptuosamente uma comida sem sal. Estes, entre outros, eram os elementos que então faziam parte do baptismo das bruxas, conduzindo-as a uma espécie de mundo alternativo em que se afastavam de tudo aquilo que era o Cristianismo e as suas leis. É curiosa, esta semelhança com os pactos com o Diabo de que cá falámos anteriormente, na medida em que a Bruxaria dos recentes séculos da nossa era, no seu geral, parece ser construída como uma negação ou antítese do Cristianismo e de Deus, mais do que uma entidade díspar.
Ao mesmo tempo, se as bruxas (femininas) tinham de ter sexo com o Mafarrico, esse elemento parece estar sempre ausente dos rituais para o sexo masculino, fazendo crer numa espécie de estranha heterossexualidade do opositor de Deus, que gosta de possuir carnalmente as mulheres, mas nunca faz uma tal exigência aos homens. Estranhas ideias, estas, que os textos de outros tempos nos vão revelando, não só em relação ao baptismo das bruxas, mas também em relação a todas aquelas crenças que os nossos antecessores lhes imputavam...