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Mitologia em Português

27 de Março, 2020

Dríades, Sereias, Sátiros, e outras figuras da Antiguidade

Há já algumas semanas que nos vieram colocar uma pergunta, "Qual a diferença entre uma dríade e uma sereia?". Porém, mais do que simplesmente lhe respondermos de uma forma muito rápida, apontando exclusivamente as definições de ambas num qualquer dicionário, achámos que poderíamos escrever um pouco mais sobre todo o grande tema por detrás dessa questão.

 

Essencialmente, os Gregos acreditavam em deuses (como Zeus, Hera, Apolo, etc.) e em heróis (como Hércules, Aquiles, Heitor, etc.), ou seja, em figuras divinas, e em figuras humanas que, face aos seus bons actos em vida, poderiam depois vir a ser deificadas. Contudo, se a maior parte dos leitores até saberá disto, estas mesmas afirmações também são muito redutoras da realidade, na medida em que os Gregos também acreditavam numa terceira categoria de seres, que não são completamente divinos mas que também não são humanos - como Marciano Capela, talvez também nós lhes possamos chamar longaevi.

 

E que seres são esses? São criaturas como as Sereias, Dríades, Faunos (divindades dos campos), Sátiros, etc. Em comum, todas elas têm o facto de não serem nem puramente humanas, nem completamente divinas. Viviam muito tempo mas não era imortais, e normalmente tinham uma forma que as colocava entre os humanos e os animais. Isso é particularmente fácil de notar no caso dos Sátiros, que tinham pernas de cabra e cornos mas uma forma essencialmente humana:

Filoctetes da Disney

Além destas criaturas existiam também as Ninfas, colectivamente divindades dos rios, montes, florestas e outros locais semelhantes. Porém, mediante a sua função obtinham nomes diferentes - Bacantes (enquanto ninfas, acompanhavam Baco nas suas viagens), Dríades (protegiam as árvores e florestas), Hamadríades (uma espécie de alma das próprias árvores), Lâmpades (viviam no submundo), Naíades (ou naíadas, associadas aos rios e fontes), Nereidas (do mar), Oceânides (das águas), Oréades (das montanhas e grutas), entre muitas outras - delas poderia dizer-se que todas são ninfas, mas não seria correcto dizer que uma ninfa é necessariamente uma Lâmpade. Por exemplo, Calipso, que durante anos prendeu Ulisses nos seus braços, é chamada uma ninfa, mas Dodona (que levou ao nome da cidade onde existia uma oráculo de Zeus) era considerada uma oceânide.

 

Onde entram então as sereias, que não devem ser confundidas com as Sirenas? Quase que em lado nenhum - são quase sempre consideradas como criaturas mitológicas completamente distintas das anteriores, meros monstros. Se quiséssemos, como na pergunta que nos foi feita, distingui-las especificamente das Dríades, poderíamos dizer que até vivem em reinos totalmente distintos - enquanto que as Sereias (originalmente) tinham um corpo de pássaro e tocavam música, as Dríades limitavam-se a viver nas florestas, em que protegiam os espaços verdes aí existentes.

 

Mas, para terminar estas linhas, é necessário deixar claro um elemento importante - estas categorizações não eram totalmente fixas. Nunca parece ter sido sistematizado que a figura X era sempre uma oceânide enquanto que a Y era sempre e somente uma ninfa. De igual forma, ao falar-se de uma bacante não se está obrigatoriamente a falar de alguém que não é um ser humano - poderá estar a referir-se, exclusivamente, uma companheira do deus Baco; ainda, os diversos autores que nos chegaram poderão, referindo uma mesma figura, por vezes chamar-lhe "ninfa", outras vezes "oceânide" ou "naíade", sem que isso seja considerado errado.

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