Em tempos da Inquisição, porque foram dados livros proíbidos?
O tempo da Inquisição foi, como muitos leitores certamente saberão, um tempo de censura de ideias. Obviamente que nessa altura não se podia dizer mal da Igreja, nem se poderiam difundir ideias contrárias às suas, mas quem já se interrogou sobre as razões pelas quais determinados livros foram então banidos? Ora bem, numa obra impressa em Lisboa no ano de 1581, com o esclarecedor título Catalogo dos liuros que se prohibem nestes Reynos & Senhorios de Portugal... Com outras cousas necessarias â materia da prohibição dos liuros, essa questão pode ser, pelo menos em parte, resolvida, já que entre os seus conteúdos está contido um conjunto de nove regras basilares para justificar essa selecção. E são, de forma muito simplificada, as seguintes:
1- Livros condenados antes de 1515;
2- Livros dos heresiarcas e de hereges;
3- Traduções de textos em que existam elementos contra a doutrina cristã;
4- A Bíblia em linguagem do povo (se for produzida sem autorização);
5- Livros como Vocabulários, Apotegmas, Índices, etc, em que passagens censuradas podiam ter sido citadas;
6- Livros que tratam de controvérsias entre católicos e hereges;
7- Livros que ensinam coisas "lascivas ou desonestas". Haviam algumas excepções para belas obras "escritas pelos gentios", mas, curiosamente, adiciona-se que mesmo essas "em nenhum caso se lerão aos moços";
8- Livros de boa natureza, mas com passagens heréticas;
9- Livros sobre temas como Geomancia, Hidromancia, etc.
Curioso é o facto de se poder proceder de duas formas em relação a livros que violassem estas regras - ou eram totalmente proíbidos (como no caso de Lúcio, ou o Burro de Luciano da Samósata, ou as Metamorfoses de Ovídio, provavelmente pelas transformações mágicas), ou tinham algumas passagens simplesmente "riscadas" (como numa passagem do segundo canto do Inferno de Dante Alighieri). As razões para tais acções são relativamente fáceis de perceber, mas prendem-se, essencialmente, com uma tentativa de defender os costumes e a sacralidade do Novo Testamento. Porém, tais acções também impediam a livre circulação de ideias... o que é sempre de evitar!