"Exortação aos Gregos", de Clemente de Alexandria
Nesta sua breve Exortação aos Gregos, Clemente de Alexandria, autor do século II da nossa era, convida os seus leitores, que pelo contexto se depreende serem pagãos, a abandonarem a sua antiga religião em favor do Cristianismo. Se, no geral, o seu conteúdo até é muito semelhante ao de outras obras da mesma época (relembrem-se, por exemplo, Contra as nações, de Arnóbio de Sica; Da Governação de Deus, de Salviano; ou Ás nações, de Tertuliano; entre o apogeu deste género literário, a famosa Cidade de Deus de Santo Agostinho), a principal razão porque refiro por cá esta obra em particular prende-se com o facto do seu autor divulgar, no segundo capítulo, muitos dos mistérios secretos das antigas religiões, o que teria sido completamente impensável para os autores pagãos dos séculos anteriores.
A referida passagem desta Exortação aos Gregos é relativamente fácil de encontrar (pode, por exemplo, ser lida aqui em tradução inglesa) mas também bem menos impressionante do que se poderia esperar - a título de exemplo, bastará ver a página em particular sobre os Mistérios de Elêusis revelados. Mas... na verdade, porque são eles tão menos impressionantes do que o leitor comum poderia pensar?
Bem, de um ponto de vista teórico, já se sabe que qualquer leitor ambicionaria encontrar mistérios demasiado impressionantes, mas pense-se de forma análoga nos mesmos elementos das religões modernas - um dos dogmas essenciais do Catolicismo é a deglutição de uma hóstia, mas será esse acto assim tão simples, tão redutível a um elemento básico? Como qualquer praticante desssa religião o saberá, por detrás dessa acção existe toda uma simbologia que o completa, e a simples divulgação dos mistérios, infelizmente para nós, muito pouco diz sobre o que realmente se passava na liturgia que os envolvia. Ainda assim, este livro de Clemente de Alexandria acaba sempre por ser um recurso interessante para os mais curiosos!