"Fé do carvoeiro", origem e significado
A expressão fé do carvoeiro já não é muito utilizada em Portugal nos nossos dias, mas foi-nos recordada há alguns dias, quando, ao falarmos com uma idosa, esta nos disse, relativamente às suas crenças religiosas, que "Deus são três pessoas, iguais mas distintas". Quando confrontada com a dificuldade de algo ser ao mesmo tempo igual e distinto, ela limitou-se a declarar que não sabia de nada, que não percebia nada disso, mas que foi apenas o que lhe ensinaram nos tempos da catequese. E esta fé simples, de uma espécie de "eu acredito apenas porque me disseram", constitui precisamente o significado da expressão de hoje,
A origem parece ser francesa, foi du charbonnier, que é como quem diz "fé do carvoeiro", e vem de uma pequena história em que um demónio transformado em homem se cruzou com um carvoeiro, um homem simples que faz e/ou vende carvão. Procurando tentá-lo e conduzi-lo ao pecado, o demónio perguntou em que acreditava o carvoeiro, e este limitou-se a responder-lhe "Acredito na Santa Igreja." Então, em seguida, perguntou-lhe em que acreditava a Santa Igreja, e desta vez o homem limitou-se a retorquir-lhe que esta acreditava "No mesmo que eu." Depois, a conversa continuou por algum tempo, sempre com respostas que nada revelavam sobre as crenças deste homem, até que o demónio lá desistiu das suas más intenções.
Esta expressão refere-se, assim, à fé religiosa que as pessoas mais simples têm, em que nada questionam, limitando-se a acreditar naquilo que as autoridades religiosas lhes dizem, sem que procurem sequer compreender as suas palavras ou as ideias, muitas vezes até um tanto ou quanto estranhas, que lhes vão sendo passadas por aqueles em que têm confiança. Acreditam em "algo", sim, mas sem que saibam muito bem no quê ou porquê... como o carvoeiro desta pequena história!