Friar Rush, um diabo tornado homem
Friar Rush é o nome inglês de uma personagem ficcional que nos é conhecida desde pelo menos os finais do século XV. Originalmente Broder Rusche nos países germânicos (entre outros nomes possíveis), esta é uma curiosa história que merece ser recordada por cá, dado estar quase esquecida mas não deixar de ser invulgar.
Recontando então brevemente a história deste Friar Rush, ele era um diabo que reencarnou num corpo humano e se fez introduzir num mosteiro da época. No seu interior causou depois muitos problemas - talvez o mais curioso seja o de originar a morte de um cozinheiro num caldeirão de água a ferver - até que lá foi descoberto e expulso do local. As aventuras que depois se seguem parecem variar de versão para versão, mas na que lemos, a ilustrada acima, depois Rush vai viver com um agricultor (cujas infidelidades da esposa acaba por revelar), e finalmente acaba por possuir a filha de um poderoso homem; é exorcisado e expulso mais uma vez, para - aparentemente - não mais tornar a ser visto.
Em suma, a narrativa de Friar Rush, para quem ainda desejar lê-la, é muito curiosa pela forma como joga com o tema de fazer do seu (anti-)herói uma personagem demoníaca mas cujos actos nem sempre podem ser lidos ou interpretados como puramente maus. Ele não é uma personagem malvada, que só comete erros e faz males, mas uma que também acaba por realizar diversos actos menos negativos que podem, até certo ponto, confundir o leitor, como quando ele revela as diversas infidelidades da esposa de um agricultor. Se, por um lado, ele não é um demónio bondoso (como o apresentando em algumas histórias do México), também não é puramente mau (como o famoso interveniente da história de Fausto), parecendo que a história foi até criada para jogar com esses dois pólos de expectativas. Porém, como no conto, bem mais recente, de Roberto o Diabo, a ideia por detrás de toda esta história parece ter sido um pouco mal aproveitada, já que também permitiria um conjunto de aventuras adicionais que, infelizmente, as obras da época raramente tendem a aproveitar...