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Mitologia em Português

02 de Fevereiro, 2021

"Ísis sem Véu", de Helena Blavatsky

O caminho que nos levou a ler Ísis sem Véu, de Helena Blavatsky, no seu original Isis Unveiled, tem o seu quê de interessante. Há algumas semanas atrás recebemos, através de uma newsletter de um espaço nacional, um convite para participar num curso sobre Teosofia. Isto pouco ou nada teria digno de nota, não fosse a forma como os dois formadores se apresentavam, referindo na sequência da sua breve formação académica o seguinte:

Após um percurso profissional, respectivamente na área da distribuição e no sector financeiro, iniciaram os seus estudos teosóficos no ano de 1996, tendo concluído um período de formação de sete anos (curso quinquenal mais dois anos de especialização). Desde então, exercem a função de docentes de curso de Teosofia em determinados espaços, assim como de oradores em conferências e outras invervenções de carácter público tendo em vista o aprofundamente espiritual.

A ideia fascinou-nos, porque conjura uma sugestão de dois seres quase monásticos, fechados numa caverna misteriosa durante cinco (mais dois!) longos anos, e que agora leccionam o que foram aprendendo em locais públicos mas tão secretos que mencioná-los pelo nome levaria, provavelmente, a uma destruição colectiva de todo o universo. Brincamos um pouco com a situação, claro, mas ela fascinou-nos tanto que decidimos ler algo de Helena Blavatsky, uma das fundadoras da Teosofia, através da sua primeira obra mais significativa, Ísis sem Véu.

Helena Blavatsky, autora de Ísis sem Véu

A uma primeira vista, a autora dá a sensação de ter sido uma pessoa verdadeiramente culta - o que dizer de alguém que, num só parágrafo, cita obras como o Popol Vuh lado a lado com os textos platónicos e as Vedas indianas? Isso é notável logo nas primeiras páginas, mas depois, à medida que se vai lendo a obra, começa-se a notar dois problemas muito significativos nesta Ísis sem Véu - "já vimos isto em algum lado", justificando as acusações de plágio de que Blavatsky foi alvo; e o facto de ser quase impossível seguir a sequência da obra, porque nem parece existir uma linha condutora real na mesma. Em vez disso, é como se alguém pegasse em centenas de pequenos temas e os colocasse, de forma completamente desorganizada, uns após os outros. Num momento fala de cores astrais (?), no seguinte de fantasmas, depois avança para Epicuro, Hermes Trimegisto e outros temas que tais, sem que exista alguma ligação real entre todos eles, apesar de serem colocados em parágrafos contíguos.

De um ponto de vistal imparcial, há que deixar claro que, aqui e ali, a autora até levanta alguns pontos muito interessantes. Conceda-se isso, sem qualquer dúvida, mas fazê-lo implica igualmente admitir que eles estão tão ocultos entre temas pouco ou nada relacionados, informações plenamente incorrectas, e até fantasias sem suporte real em quaisquer provas, que se torna difícil saber em que se pode mesmo acreditar, e.g. se o Espiritismo é tão digno de crédito como a Atlântida, ou se tudo isto se trata somente de mais uma grande fantasia como a das Leis do Sol.

 

Em suma, não recomendamos, de todo, esta Ísis sem Véu, de Helena Blavatsky. Se a nossa opinião relativamente à Teosofia ainda é muito reservada e ficará para uma oportunidade futura, este livro apresenta apenas o que um crítico inglês definiu, muito justamente, como "a hodge-podge of absurdities, pseudo-science, mythology and folk-lore, arranged in helter-skelter fashion, with an utter disregard of logical sequence". É uma obra perfeita para ser citada de forma completamente descontextualizada, porque diz demasiado e prova pouquíssimo, mas pouco mais que isso.

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