"Livro Da Seita Dos Indios Orientais", de Jacobo Fenicio
Enquanto ainda decorre o nosso concurso de poesia - e já temos várias dezenas de concorrentes! - decidimos aqui abordar um tema que tinha ficado para trás desde há algumas semanas. Este Livro Da Seita Dos Indios Orientais, da autoria de Jacobo Fenicio, é um manuscrito que merece ser apresentado por cá pelo seu carácter muitíssimo único. De forma breve, podemos dizer que se trata de um dos primeiros livros ocidentais sobre as crenças, mitos e lendas do Hinduísmo, que o seu autor - também conhecido por Giacomo Fenicio ou Arthunkal Veluthachan - procurou apresentar aos Europeus. E essa é uma tentativa que tem pontos positivos e negativos, como iremos ver em seguida.
Neste Livro Da Seita Dos Indios Orientais é sem qualquer dúvida notável que, por uma das primeiras vezes, um autor europeu tente sintetizar as crenças provindas de Índia. Ele conta, de uma forma mais ou menos detalhada, diversas histórias significativas, em alguns casos referindo até várias versões regionais das mesmas. Entre elas, dedica muitas páginas a toda a importante trama do Ramayana, enquanto que o Mahabharata já é resumido de uma forma muito breve, exaltando-se assim uma (aparente) importância cultural do primeiro face ao segundo.
Ao mesmo tempo, este mesmo Livro Da Seita Dos Indios Orientais também tem um elemento que poderá ser menos positivo para quem o pretender ler com a intenção de chegar aos mitos e lendas originais (como foi o nosso caso). Se o autor conta as histórias referidas acima, parece fazê-lo essencialmente para que as possa refutar (chega até a chamar-lhes "fábulas como as de Ovídio"), para mostrar o que ele considerava, à lua da teologia cristã, ser um certo absurdo pagão nas suas tramas. Assim, a obra contém igualmente comentários pessoais do seu autor, em que exalta as crenças cristãs e tenta diminuir as dos locais, o que é justificável, já que se trata de um padre e membro da Sociedade de Jesus. Alguns destes são breves e podem fazer sorrir o leitor, enquanto que outros abrangem capítulos inteiros e pouco acrescentam à representação das histórias originais.
Portanto, o Livro Da Seita Dos Indios Orientais, de Jacobo Fenicio, tem o seu interesse por nos preservar, naquela que parece ter sido uma das primeiras vezes, as histórias de um oriente hindu à vista nova de um intérprete ocidental. Merece ser lido em virtude de toda essa novidade, mas aos potenciais leitores também deve ser alertado o facto da obra conter várias sequências teológicas nas quais poderão não encontrar um interesse tão grande. Poderão passá-las à frente sem se perder muita informação real sobre as tais sequências mitológicas, mas elas estão na obra original.