Mais um plágio de Daniel Santos Morais
Não gostaríamos de voltar a ter falar de Daniel Santos Morais, mas sim de comer umas fatias de bolo-rei em redor das respectivas lareiras. Até porque está frio lá fora. Infelizmente, nem todos os locais para onde reportámos o problema original se mostraram muito interessados em agir contra ele - pelo contrário, o próprio portal do Sapo até decidiu premiar esse claríssimo crime de plágio publicitando o mais recente artigo do seu perpetrador em plena praça pública. "Os nossos Parabéns", Sapo, MEO e Altice, pelo sempre fantástico trabalho na luta contra o plágio de conteúdos!
Para celebrar essa "fantástica e muito justificável" decisão, que envergonharia mesmo o Margites homérico, vamos então aqui expor mais um plágio deste "autor" nacional. Em Novembro de 2022, ele quis publicar um artigo sobre Antónia Rodrigues, uma figura da nossa história conhecida como a “Amazona Portuguesa” ou a "Cavaleira Aveirense". Infelizmente ainda não falámos dela por cá (talvez voltemos ao tema um outro dia...?), pelo que não existia aqui nada que ele pudesse plagiar, e então teve de recorrer a outras fontes, que como parece ser seu hábito não credita. Pegando num outro artigo que produziu para a mesma publicação que o anterior, e que não nomeamos aqui para não lhe dar qualquer publicidade (caso o original desapareça "misteriosamente", uma cópia do original e do plagido pode ser encontrada aqui), pode ser gerado mais um curioso paralelismo parcial entre duas fontes de informação, desta vez separadas no tempo por cerca de dois anos:
Artigo em Experimentaveiro (24.10.2020) | Artigo deste “autor” (22.10.2022) |
Antónia Rodrigues | Antónia Rodrigues |
Chamada também de Antónia de Aveiro | também conhecida como Antónia de Aveiro |
não foi apenas uma notabilidade da terra de Aveiro | mulher notável dessa terra |
mas também uma celebridade de Portugal | assim como da história de Portugal |
Mesmo com diversas opiniões, é comummente aceite a data de 31 março de 1580 como data do seu nascimento | Nascida no séc. XVI |
filha das gentes da Beira-Mar | filha de uma casa pobre de pescadores |
Talvez por algumas contrariedades e\ou doenças os seus pais viram-se obrigados a enviar esta filha para Lisboa | é pela sua condição social obrigada a ir viver com a sua irmã e cunhado para Lisboa |
Então com 11 anos | com apenas 11 anos |
[Génio] impróprio para a idade | De espírito irrequieto |
Génio altivo | génio lascivo |
repugnando-lhe os trabalhos domésticos da altura | Antónia recusava-se às tradicionais tarefas domésticas |
deixava-se encontrar na Praça da Ribeira a olhar os navios ancorados | admirando antes a vida dos marinheiros que atracavam as caravelas junto ao Tejo |
manisfestando a mágoa de não ter nascido homem | confessando com eles o desejo e mágoa que sentia por não ter nascido homem |
para, com eles, seguir viagem e vidas aventureiras por novos horizontes | e não poder participar com eles na descoberta de novos horizontes |
Chamavam-na louca e por vezes, visionária. | Não será preciso dizer que tais confissões rapidamente se virariam contra si, sendo considerada como louca. |
Tinha então apenas 15 anos | Aos 15 anos |
Às ocultas, foi vendendo a sua pouca roupa | com algum dinheiro que juntara das feiras onde vendera as suas poucas roupas |
trocando por outra, própria do sexo masculino | e/ou trocara por outras masculinas |
sentada a baixo do tejo meditou e tomou uma resolução | Antónia decide finalmente aventurar-se numa incursão marítima |
vestida com as roupas masculinas | “vestida de homem” |
cortou os seus cabelos | de cabelo cortado |
O capitão estimava o ajudante | obtendo o reconhecimento do capitão |
sempre hábil no manejo das armas | Adquirindo facilmente o manejo das armas |
foram várias as "damas" que se apaixonaram por Antónia Rodrigues | Rapidamente Antónia, agora, António Rodrigues, ganhara popularidade entre as damas da corte |
D. Beatriz de Meneses | D. Beatriz de Meneses |
filha de D. Diogo de Mendonça, um dos principais fidalgos, dos que viviam em Mazagão | filha de um dos principais fidalgos da região |
entendendo-se com o Governador, convenceu-o de que a filha teria de desposar Antónia Rodrigues | incentivara o casamento e reconhecimento do casal pelo Governador |
Antónia Rodrigues corou, chorou, tremeu e perdeu completamente a coragem | Antónia Rodrigues corou, chorou, e perdendo a coragem em manter a sua falsa identidade revela a sua estória |
O Governador fez logo espalhar a notícia | Rapidamente a notícia se espalharia pelo reino |
ouvindo as aclamações do povo | Antónia é aclamada pelo povo |
que lhe dava o epíteto de cavaleira aveirense | no qual lhe atribua o epíteto de “cavaleira aveirense” |
tendo Antónia Rodrigues escolhido um brioso oficial, cujo nome se ignora | Acabando por casar com um oficial do reino no qual tivera um filho |
Com trinta e cinco anos voltou para Portugal na companhia do marida e de um filho ainda pequeno | regressaria com a família a Lisboa anos mais tarde |
"Tudo meras coincidências", claro está, caros leitores... mas o caso ainda não fica por aqui! Visto que nem toda a gente é tão adepta do plágio, esse artigo presente no site Experimentaveiro revela abertamente que a fonte por eles utilizada foi um livro de Rangel de Quadros de título Aveirenses Notáveis. Fomos consultá-lo, numa edição online do ano 2000, e descobrimos algo muito curioso. Atente-se a uma só frase, tal como ela ocorre nestas três fontes:
- Livro: "Tendo ouvido a proposta do casamento, [Antónia Rodrigues] corou, tremeu e perdeu completamente a coragem."
- Site: "Antónia Rodrigues corou, chorou, tremeu e perdeu completamente a coragem."
- Daniel Santos Morais: "Antónia Rodrigues corou, chorou, e perdendo a coragem em manter a sua falsa identidade revela a sua estória."
Apenas nas duas primeiras fontes é dito que ela tremeu antes de perder a sua coragem. O que nos leva a um pormenor delicioso - o plagiador sentiu a necessidade de omitir o tremelique da heroína para não lhe dar sinais de fraqueza, como se uma mulher deixasse de o ser por ter sentido a necessidade de tremer face a uma dificuldade significativa da sua vida! É, ao mesmo tempo, um pormenor que permite descobrir que ele usou como fonte o site aqui em questão, e não o próprio livro (que provavelmente nem se deu ao trabalho de procurar), pela ideia de ela ter chorado apenas se encontrar nessa segunda fonte...
Tudo isto é completamente caricato. Isto seria motivo de uma enorme chacota entre colegas num plágio de um aluno do ensino secundário, mas estamos aqui a falar de um doutorando numa universidade pública portuguesa. Portanto, adaptando ao caso umas famosas linhas de Marco Túlio Cícero, Quo usque tandem abutere, "Daniel Santos Morais", patientia nostra? Quam diu etiam furor iste tuus eludet? Quem ad finem sese effrenata iactabit audacia? (...) O tempora, o mores!
Este é o segundo plágio que lhe detectámos em menos de 15 dias, o segundo de um "autor" e inacreditável doutorando na Universidade da Coimbra. Em seguida, com mais tempo, poderíamos então vir a apontar um terceiro. E um quarto. E um quinto. E um sexto. E um sétimo... e quem gosta de apoiar este plágio continuaria, certamente, a dizer que nada de errado se passa - que ele, "coitadinho", só o fez apenas e exclusivamente duas, três, quatro, cinco, seis, sete [...] vezes - e a assobiar para o lado. Portanto, decidimos então tentar algo de diferente. Além do já referido acima, abrimos 19 outros artigos escritos por ele e apresentados na mesma publicação. Depois, fomos então vendo, de forma muito rápida, o que encontrávamos. Há uma listagem completa, apenas para nosso uso interno e pessoal, mas foi encontrado o seguinte:
- Pelo menos 4 imagens retiradas de fontes cobertas por copyright;
- Pelo menos 3 imagens de bancos de imagens pagos (será que as pagou?);
- Pelo menos 12 citações sem atribuição de origem;
- Pelo menos 2 citações em que o original nem sempre diz o que ele "cita";
- Pelo menos 3 claríssimas violações dos chamados "direitos de propriedade intelectual";
- Dois artigos em que ele cita, correctamente, as suas fontes, demonstrando que até o sabe fazer;
- Um artigo de apologia ao ódio (algo que nos pareceu tão caricato que nem sabíamos, inicialmente, se o deveríamos mencionar aqui).
Isto é... isto é inacreditável! Isto é gozar com os leitores, com os editores que lhe aceitaram os tais artigos, e com os professores da universidade que frequenta. Não fosse a quadra natalícia e um dos nossos colegas ia imediatamente a Coimbra para o confrontar e a seja quem for o seu orientador académico. Ao mesmo tempo, a forma como este Daniel Santos Morais procede também explica porque razão os sistemas automatizados da universidade nunca lhe apanharam o plágio que pratica - têm uma dificuldade significativa em casos desta natureza, nos quais um aluno pura e simplesmente pega em fontes da autoria de terceiros e as reescreve, mais ou menos significativamente, para dizer que um dado trabalho de investigação e escrita é apenas e somente da sua própria autoria.
Enfim. Sem palavras, esta situação é completamente de loucos, própria de gente que não tem qualquer espécie de vergonha na cara! Em momentos como estes até nos temos de interrogar porque perdemos o nosso tempo a investigar seja o que for, se é para depois "espertalhões" como estes fazerem o que fazem sem serem responsabilizados, sendo até premiados por plagiarem...