"Margites", de Homero(?)
O Margites era uma obra quase sempre atribuída a Homero, e a sua grande importância pode ser vista pelo facto de Aristóteles ter dito, na sua Poética, que esta criação estava para as comédias como a Ilíada e a Odisseia estavam para as tragédias da altura, fazendo dela uma das três obras mais importantes do seu tempo. Agora, se esta obra está hoje maioritariamente perdida, através dos seus fragmentos e das poucas citações que os autores posteriores lhe fizeram podemos saber o seguinte:
Uma das frases da obra dizia que a raposa sabia muitos truques e o ouriço-cacheiro apenas um, mas um muito bom. É provável que esta frase surgisse no contexto de um qualquer engano reportado na obra, à qual o titular Margites acabaria, como o próprio ouriço, também por se safar repetidamente; esta é uma suposição que fará algum sentido se tivermos em conta o contexto da presença dos animais, e sua ligação com as acções dos humanos, nos poemas homéricos.
A personagem que dá título à obra era representada como estultíssimo. Entre os exemplos dessa sua característica surgem a sua incapacidade para qualquer arte; o facto de este não saber quem o tinha dado à luz (se pai, ou mãe); a sua recusa em fazer amor com a esposa mesmo após o casamento, para que esta não pudesse depois dizer mal dele aos seus familiares.
Infelizmente, se alguns vagos fragmentos foram sendo encontrados ao longo dos anos, parecem referir-se quase todos à mais singular característica de Margites, a sua evidente falta de saber. Será que a personagem acabaria por se redimir? Apresentar-nos-ia esta aventura um herói que, apesar de desconhecedor, acabaria por vencer as mais diversas dificuldades que se lhe punham? Não sabemos, mas a informação que Aristóteles nos dá deixa claro que a obra, qualquer que tenha sido a sua autoria real, se destinava a fazer rir a audiência. Disso é um enorme exemplo uma alusão menos conhecida, provinda das obras de Eustácio de Tessalónica - para que Margites finalmente fizesse amor com a esposa, esta disse-lhe que tinha uma maleita que só podia ser curada se este enfiasse os seus genitais na vagina da sofredora.
Acabou o herói por fazê-lo? O que viria a pensar dessa sua experiência sexual? Na ausência real da obra, ou de uma sinopse, ficam as questões...