"Metamorfoses", de Antonino Liberal; os mitos de Cragaleu, Egípio, Cicno e Oenoe
As Metamorfoses de Antonino Liberal assemelham-se às de Ovídio, até pela sua temática. Assim, esta obra aborda 41 mitos gregos, todos eles envolvendo algum tipo de transformação, como o próprio nome da obra também dá a entender. O que tem, então, esta colectânea, bem mais pequena que a de Ovídio, de especial? Bem, os mitos aqui apresentados são, no seu geral, desconhecidos das outras fontes a que temos hoje acesso. Vejamos quatro pequenos exemplos, através dos mitos de Cragaleu, Egípio, Cicno e Oenoe:
Numa das história, três deuses (Apolo, Artémis e Héracles) disputam a cidade grega de Ambrácia; Cragaleu foi convidado a decidir entre os três, e optando então por Héracles levou a que Apolo, zangado, o transformasse em pedra.
No mito de Egípio, este apaixona-se por uma víuva, mas o filho desta, da mesma idade que Egípio, não concordava com a relação. Assim, através de um esquema, fez com que a Egípio tivesse sexo com a própria mãe. Após consumado este acto, a mãe de Egípio reconheceu-o, e tentou furar-lhe os olhos antes de se suicidar, mas Zeus transformou todos os envolvidos em pássaros, cada um com características semelhantes à do mito.
A história de Cicno é a de um jovem de extrema beleza física, mas rude e insensível. Por essas falhas de carácter, foi perdendo admiradores até ter apenas um único, Fílio. Então, Cicno mandou-o fazer sucessivas tarefas de extrema dificuldade (matar um leão sem usar armas, capturar abutres sem os matar, afastar um touro da respectiva manada e levá-lo até ao altar de Zeus, ...), na última das quais foi ajudado por Héracles, que lhe pediu que deixasse de aceitar os pedidos de Cicno. Fílio aceitou esse pedido do deus, afastou-se de Cicno, o que levou este segundo a suicidar-se atirando-se a um lago, acto que a mãe do belo jovem também acabaria por repetir. Fica implícito que ambos se transformaram em cisnes.
Finalmente, Oenoe era uma bela jovem da raça dos Pigmeus que desprezava Hera e Artémis. Quando teve um filho, Hera sentiu-se insultada pelo desprezo da jovem e transformou-a num grou. Porém a história não fica por aqui; com saudades do filho, e mesmo sob a forma de pássaro, Oenoe continuou a sobrevoar incessantemente a aldeia dos Pigmeus. Estes tentaram então afastá-la, levando à (então famosa) guerra com os grous.
Além destes quatro, esta obra de Antonino Liberal apresenta muitos outros, mas eu optei por deixar por cá estes porque, pessoalmente, os achei de especial importância. O primeiro e terceiro apresentam (muito raras) aparições de Héracles enquanto deus. O segundo relembra-me o mito de Édipo, e as acções programadas pela mãe de Egípio levam-me a pensar que talvez fosse esse o castigo definido para o crime em questão. Já o último, para quem souber do que estou a falar, conta a base de um imortal conflito entre uma raça humana e os grous. Quem quiser saber os vários outros, como os mitos de Íerax, da Lamia, de Leucipo, Tífon, Britomarte ou até da morta de Alcmena, já terá de ir ler a própria obra!