O Castelo de Bimberimbelo
O Castelo de Bimberimbelo insere-se num conjunto de tradições populares que, muito infelizmente, se foram perdendo ao longo dos anos. Cada vez se contam menos histórias, e cada vez os mais novos parecem ter menos interesse em ouvir e repetir aquelas que os seus antecessores ouviam e contavam entre si. Claro que se conhecem cada vez mais as histórias como a da Pequena Sereia, da Cinderela ou da Bela e o Monstro, em versões estáticas e higienizadas para os nossos dias, mas como exemplos (nacionais) como o da Carochinha e o João Ratão nos permitem constatar, há cada vez mais histórias a serem simplificadas ou esquecidas. O tema de hoje cai nesse mesmo problema, por apresentar uma espécie de jogo, ou lengalenga, que se foi esquecendo ao longo do tempo.
Tudo começava com um conjunto simples de versos:
Aqui está a porta
Do Castelo
De Bimberimbelo.
Depois, uma segunda pessoa adicionava um novo verso ao seu início, mantendo o esquema estável:
Aqui está a chave
Que abre a porta
Do Castelo
De Bimberimbelo.
Em seguida, era adicionado mais um verso, não esquecendo os anteriores, assim:
Aqui está o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do Castelo
De Bimberimbelo.
E essa espécie de jogo ia sendo continuada, recorrendo-se à imaginação de cada ou repetindo apenas os versos tradicionais, até que se tivesse uma trama impossível de continuar, como neste exemplo:
Aqui está a morte
Que levou o carniceiro
Que matou o boi
Que bebeu a água
Que apagou o lume
Que queimou o pau
Que bateu no cão
Que mordeu o gato
Que comeu o rato
Que roeu o cebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do Castelo
De Bimberimbelo.
E então, podia até concluir-se com algo como:
Aqui está a morte
Que levou o carniceiro
E que nos entrega a chave
Do Castelo
De Bimberimbelo.
Jogos como estes permitiam não só treinar a memória, mas também divertir a pequenada. Ajudavam a passar o tempo, numa altura em que não existiam ainda telemóveis e outras coisas que tais. Agora andam cada vez mais esquecidos, e mesmo uma pesquisa online já só revela uma versão preservada numa das obras de Teófilo Braga. Mais cedo ou mais tarde, jogos como esses acabarão por desaparecer completamente...