O Coelho que Visitou o Palácio do Mares
A história que aqui contamos hoje, do Coelho que Visitou o Palácio do Mares, vem da Coreia e parece ser, segundo nos foi sendo dito, uma das mais conhecidas e populares desse país. De facto, enquanto escrevíamos estas linhas até encontrámos um livro infantil baseado no mesmo tema, como poderão ver abaixo. Mas continuando, esta é, como será fácil constatar, uma história para crianças, uma que bastante se assemelha às fábulas do nosso Esopo, mas nem por essa razão é menos digna de ser contada por aqui, até porque pode fazer o leitor sorrir um pouco.
Há muito, muito tempo atrás, o Rei Dragão, o grande e poderoso monarca do Palácio dos Mares, ficou doente. Pediu aos médicos da sua corte algum remédio para a maleita, mas por muito que insistisse nenhum deles foi capaz de encontrar solução. Face à dificuldade, este monarca mandou então chamar todos os seus maiores sábios, que após horas e horas e horas de discussões conseguiram concluir que a cura para este seu rei passava por ele comer o fígado de um coelho.
A uma primeira vista isto seria fácil de resolver, mas não só não existem coelhos nos oceanos, como toda a corte deste rei tinha uma óbvia dificuldade em ir a terra. Lá muito se discutiu o tema, até que uma pequena tartaruga se ofereceu para sair das águas, ir a terra e trazer de volta ao palácio um coelho. Assim o planearam e assim ela o fez - a tartaruga foi a terra, encontrou um coelho, e disse-lhe que o Rei Dragão o queria conhecer.
Muitas foram as conversas que ambos tiveram, até que o coelho lá se deixou convencer pelo estranho convite e aceitou ir visitar o Palácio dos Mares. Ele não sabia como chegar lá, mas viajando às costas da tartaruga depressa chegaram ao local. Houve muitas festas, o animal foi presenteado com um enorme banquete, e tudo estava bem no melhor de todos os mundos possíveis até que o animal terrestre ouviu um rumor que dizia que o Rei Dragão lhe queria comer o fígado. Ficou com muito medo, como parecerá natural... mas o rumor depressa foi confirmado quando este coelho foi chamado perante o rei e lhe foi pedido o fígado.
Inesperadamente, o coelho respondeu que não tinha o fígado consigo. Tinha-o deixado em casa. Estava a lavar a roupa, lavou o fígado, colocou-o numa corda de secar, e depois deixou-o por lá. O pânico na corte foi geral, até que a tartaruga se ofereceu para levar o coelho de volta, para que este pudesse ir buscar o fígado de que tinham tanta necessidade. Assim planearam e assim foi feito. Mas depois, quando o coelho voltou a terra, depressa fugiu da tartaruga e dos mares, para não mais voltar, proclamando "Ahahaha, foram enganados, não há nenhum ser neste mundo que consiga retirar o próprio fígado para o lavar!"
Assim termina a história do Coelho que Visitou o Palácio do Mares. Para quem tiver essa curiosidade, não sabemos o que depois terá acontecido ao Rei Dragão (relembre-se que os dragões ocidentais são animais muito ligados à água), se ele lá acabou por ser curado ou não, mas é muito provável que tenha conseguido recuperar a sua saúde, já que ele, juntamente com muitos outros companheiros aquáticos, aparece em diversas outras histórias asiáticas, de que a lenda de Sun Wukong será provavelmente a mais óbvia.
Deixando de lado essas questões teóricas, esta não deixa de ser uma bela história com uma lição que ainda nos serve bastante para os nossos dias de hoje. Que lição será essa já é algo mais discutível, pelo que sentimos a necessidade de deixar para uma reflexão de quem for ler estas linhas. Fica o convite, como sempre!