O Cristianismo contra o Judaísmo, ou o "Diálogo de Timóteo e Áquila"
Hoje em dia, aqueles que seguem as mensagens do Cristianismo tendem a esquecer-se, talvez até em demasia, que essa religião provém do Judaísmo. É uma espécie de sequela. Mas, devido a essas origens, existiu um tempo em que havia uma necessidade de discutir a ligação entre ambas, e que até já aparece representado nas epístolas hoje presentes no Novo Testamento. Foi nesse contexto que, ao longo dos primeiros séculos da nossa era, foram surgindo diversos diálogos em que as duas religiões eram opostas uma à outra, normalmente de forma a fazer uma apologia da nova religião, tentando obter novos conversos entre os judeus.
Se existem vários diálogos desta natureza - na pesquisa para este artigo tivemos acesso a cinco - aqui falamos, em específico, do Diálogo de Timóteo e Áquila pelo facto de se tratar do mais interessante exemplo deste género literário na Antiguidade. Existe uma breve trama em redor de todo o debate e o judeu, Áquila, até tem um papel activo. Claro que no final este acaba por ser converter ao Cristianismo - como não podia deixar de ser - mas, pelo menos, não se limita a aceitar impavidamente os ataques do opositor, apresentando visões e opiniões potencialmente reais.
O diálogo, em si, poderá parecer um pouco enfadonho para o leitor comum, mas gira em torno da interpretação e reinterpretação dos textos bíblicos. Vão sendo citados momentos do Antigo Testamento que o cristão usa em favor da sua religião, com o judeu a levantar algumas oposições. Inesperadamente, num dado momento é até explicado que existiam, sim, diferenças entre o AT cristão e o texto judaico, muitas vezes ao nível das previsões de vinda do Messias, mas que isso só acontecia porque Áquila [de Sínope, diferente da personagem judaica do texto] corrompeu algumas traduções gregas - mas essa é uma história que fica para outro dia.
No seu geral, este não é, como já foi dito, um diálogo particularmente interessante para o leitor comum, mas é-o certamente para quem tiver interesse na forma como as fés judaica e cristã se entrelaçavam nos primeiros séculos da nossa era.