O curioso filme "Winds of Change"
Hoje falamos de um filme curioso, Winds of Change, com que nos deparámos há algumas semanas. Ele também é conhecido por vários outros nomes, nomeadamente Metamorphoses e Orpheus of the Stars, naturalmente referindo-se ao facto de conter histórias adaptadas das Metamorfoses de Ovídio, mas este acaba por ser um daqueles casos em que o próprio filme tem tanta ou mais história que a sua própria trama.
Na sua forma original, que aparentemente tinha o título de Metamorphoses, este filme distribuído pela Sanrio - a tal empresa mais famosa por Hello Kitty - foi lançado em 1978 como uma espécie de animação musical, na tradição de Fantasia da Disney. Não tinha uma trama contínua, mas sim cinco histórias não relacionadas umas com as outras que, no seu geral, foram retiradas da famosa obra de Ovídio - os mitos de Perseu e a Medusa; Acteon; uma história aparentemente inventada, em que as personagens principais nem têm nome; Orfeu e Eurídice; e Faetonte. Toda a ideia até é interessante, mas quem tiver ido ver esse filme deparou-se com alguns problemas, nomeadamente a ausência de qualquer diálogo (o que tornava difícil perceber as histórias), a reutilização constante das personagens principais (o que dava a falsa ideia de que eram sempre as mesmas); e o facto das músicas não captarem o espírito do que se ia passando no ecrã.
Para corrigir estes problemas, uma nova versão do filme foi produzida, aparentemente com o título Winds of Change no Ocidente e Orpheus of the Stars no Japão. À versão original foram cortadas algumas cenas, foi adicionado um narrador, este passou a tentar explicar que existia uma reutilização das personagens mas em papéis diferentes, e as músicas - originalmente muito mais interessantes - foram alteradas para serem condizentes com o que podia ser visto no ecrã.
Para a escrita destas linhas fomos ver ambos os filmes, um depois do outro, e o cerne da sua trama é essencialmente o mesmo. Tem algumas cenas bastantes bonitas, como o momento em que Faetonte perde o controlo dos cavalos solares de Hélio, mas em determinados momentos esta até parece ter sido uma criação composta pelos restos de dois filmes diferentes, com heróis muito infantilizados, mas algumas criaturas mitológicas e deuses a serem apresentadas como monstros assustadores. A ideia pode confundir um pouco a audiência, mesmo em Winds of Change, porque se fica um pouco com a ideia de que os seus criadores não sabiam bem a quem queriam destinar o seu filme.
Vale então a pena ver Winds of Change, Metamorphoses, Orpheus of the Stars, ou como queiramos chamar às diversas versões deste filme? Não. O filme merece aqui ser mencionado pela sua tentativa de adaptar as histórias de Ovídio para os nossos dias, numa altura em que isso ainda não era muito comum no audiovisual, mas fora isso este já não é um filme que poderá agradar bastante às audiências de hoje em dia.