O estranho segredo das bruxas, feiticeiros, magos, xamãs, e figuras mágicas afins...
Hoje em dia, quando pensamos na magia e no oculto, tendemos a considerar essas coisas como uma entidade horizontal com uma só face comum. Mas, na verdade, quem não tiver nada para fazer e for pensar bem no assunto irá notar que a ideia do misticismo não é só uma, horizontal e completamente igual, mas pode ser dividida em vários subgrupos, cada um com as suas características particulares, que nem sempre são fáceis de distinguir. Por exemplo, relativamente ao xamã, o dicionário da Priberam define-o como um "indivíduo que se considera ter poderes especiais, em geral mágicos, curativos ou divinatórios", sem que nunca seja apontado uma das suas características essenciais, a ligação dessa figura com a natureza.
Pense-se em figuras como Circe e Medeia, dos mitos gregos. Relativamente à sua ligação com as artes mágicas, como podem ser definidas? Não é uma questão simples, mas as suas artes passavam, essencialmente, pelo uso e conhecimento das características das ervas com vista a um propósito mágico.
Pense-se também em figuras mais recentes, como Merlim ou Dumbledore - como definir a sua magia? Também não é fácil, mas o que é notório é que a sua versão da magia é significativamente diferente da anterior, na medida em que não tem lugar pela utilização das ervas, mas por outros meios.
Um terceiro exemplo - qual a distinção entre uma bruxa e uma feiticeira? O dicionário da Priberam define a primeira como uma "mulher que se crê capaz de fazer bruxarias, feitiços ou profecias", enquanto que a segunda é definida como uma "mulher que faz feitiços", levando-nos a perguntar, em tom de brincadeira, se uma bruxa tem efectivamente poderes ou se só lhe basta crer que sim.
Todo este problema não é fácil de descortinar. Mas há, no entanto, uma distinção curiosa que é simples de se fazer - por razões históricas, a magia no feminino é frequentemente feita com recurso a elementos externos (invocação de divindades, uso do poder das ervas, etc.), enquanto que a magia masculina depende essencialmente de elementos internos (recitação de fórmulas, uso do conhecimento de livros, etc.). Ou seja... as mulheres necessitam de ajuda exterior para fazer a sua magia, enquanto que os homens a conseguem fazer pelo seu próprio poder. Claro que é uma ideia um tanto ou quanto estranha, mas como referido acima esta distinção deve-se a razões históricas, ainda de um tempo em que o acesso ao conhecimento nem sempre era possível ao sexo feminino.
Em suma, é muito difícil distinguir entre bruxas, feiticeiros, magos, xamãs e outras entidades mágicas semelhantes, mas parece ter existido uma distinção real entre o conhecimento mágico masculino e o feminino. Raramente se pensa num homem a esvoaçar numa vassoura, ou a mexer o seu caldeirão...