Sobre o Mabinogion
O Mabinogion é uma colecção de algumas histórias orais bretãs compilada por volta do século XII. São, todas elas, histórias belíssimas de cavalaria e de magia, com alguns momentos completamente imprevisíveis e que certamente agradarão aos amantes da ficção. Porém, o que as torna particularmente relevantes para este espaço é o facto de entre estas histórias se contarem algumas versões antigas de aventuras arturianas, que autores posteriores, como Thomas Malory, potencialmente readaptaram para os seus livros.
Para darmos um exemplo concreto, no romance de Perceval, da autoria de Chrétien de Troyes, surge uma famosa sequência em que o herói vê uma espécie de parada num castelo, onde está incluído o Santo Graal. Perceval até sente curiosidade, mas nada pergunta sobre esse evento. Uma sequência semelhante aparece na história de Peredur (um dos romances do Mabinogion), sem o Graal, sem o "Roi Pécheur", também sem a pergunta ser feita, e com uma personagem principal ligeiramente diferente. A ligação entre ambas as sequências é notória, seria bastante difícil negá-la, mas não sabemos qual delas surgiu primeiro.
Porém, nem tudo é bom nestas histórias do Mabinogion. Alguns dos seus traços de oralidade tornam-nas, em determinados momentos, enfadonhas para uma leitura nos nossos dias. Também, parece existir pouca ligação entre as histórias; com excepção da sequência chamada "Quatro Ramos do Mabinogi", não existe uma continuidade notável entre elas. Além disso, estão repletas de elementos mitológicos que se perderam ao longo dos séculos e sobre os quais, infelizmente, hoje temos pouca informação.
Por razões como estas, este Mabinogion é uma obra que dá prazer ler, mas que também é melhor aproveitado numa edição crítica, com comentários e anotações, para que possa ser compreendida devidamente por todos os leitores.