O mito da Medusa
Já cá falámos bastante do famoso mito da Medusa - brincámos com um seu possível encontro com o Rei Midas, tentámos explicar porque ela era mortal (contrariamente às duas irmãs), e unimos a sua morte com o mito de Pégaso e o de Perseu. Até distinguimos entre a sua cabeça decepada e a égide de Atena, mas nunca contámos foi, em específico, o seu próprio mito, que até nos nossos dias de hoje continua a ser muito famoso.
Comece-se, então, pela origem mitológica desta figura (sobre a origem da própria criatura, enquanto monstro potencial derivado da cultura hindu, também já cá falámos!) Nas versões mais comuns, ela era uma criatura monstruosa, nascida de Fórcis e Ceto (ambas divindades marinhas) e tinha duas irmãs. Contudo, numa outra versão, que nos foi tornada famosa pelo poeta Ovídio, Medusa tinha sido originalmente uma jovem (humana) extremamente bela que foi violada pelo deus dos mares num templo de Atena; zangada com esse acto abominável, a deusa puniu a violada (em vez de, estranhamente, o possível violador - mas não sabemos se a relação sexual até foi consensual), dando-lhe a horrenda forma com que aparece nos diversos mitos.
Qualquer que tenha sido a origem desta figura, já só temos um famoso mito que relate o resto da sua existência, mas que implica uma alteração significativa do ponto de vista da narrativa, na medida em que é Perseu o herói da história. O futuro marido da sua mãe ordenou a este que lhe trouxesse a cabeça desta espécie de monstro como prenda de casamento. Então, com a ajuda de Atena e de Hermes, o herói encontrou a toca desta figura mitológica e cumpriu a sua tarefa - mas não foi uma tarefa nada fácil!
Diz-nos este mito grego que esta criatura tinha até o poder de transformar em pedra todos aqueles que a olhassem directamente. Como derrotar uma criatura assim? A resposta surgiu com o auxílio dos deuses - Atena emprestou-lhe um escudo, Hades um elmo que tornava o portador invisível, e Hermes uma foice e as famosas sapatilhas aladas, sinónimo de rapidez. Depois, chegando ao local, usou o elmo para se aproximar e fitando a sua opositora só pelo reflexo num escudo, o herói fechou os olhos, virou-se rapidamente e cortou-lhe a cabeça, guardando-a numa espécie de saco. Do sangue que brotou nesse instante nasceu, famosamente, o cavalo Pégaso.
Toda esta grande sequência do mito pode ser vista na belíssima imagem acima, que marca a morte de Medusa e o último instante em que aparece em qualquer mito. Ou penúltimo, se quisermos associar à história o momento em que Atena tomou a cabeça decepada para si mesma e a colocou no seu escudo.
Mas então, o que podemos dizer de todo este mito da Medusa? É um mito que tem consequências bem visíveis na representação de Atena, como acontece com o de Hércules e o Leão da Nemeia, em que o herói passa a ser representado com a pele do monstro que venceu. O facto de a figura ter o poder de transformar em pedra todos aqueles que olhavam para a sua face, ou o auxílio de vários deuses (por oposição a apenas um, como é frequente), entre outros elementos da história, fazem deste um mito particularmente singular. E é certamente possível que a sua fama ao longo dos séculos tenha provindo disso mesmo, dessa presença de um conjunto de vários elementos invulgares no panorama das histórias da Grécia Antiga - se a história original era assim tão diferente das outras, seria difícil que as pessoas se esquecessem dela, contrastando, por exemplo, com os incontáveis mitos de transformações, como aquelas que nos chegaram em massa num famoso poema de Ovídio.