O mito da morte de Zeus
Existem muitas menções obscuras na literatura clássica mas poucas me parecem tão interessantes como o de um suposto mito da morte de Zeus, aquele mais poderoso de todos os deuses da Grécia Antiga.
Dizia-se então que existia um túmulo de Zeus em Creta, mais precisamente na cidade de Cnossos. Este monumento, hoje completamente perdido, é frequentemente motivo de alusão por autores cristãos - que assim tentam provar que Zeus não era um deus mas simplesmente um mero mortal - e referido por alguns autores mais antigos, que apelidam os habitantes da ilha de mentirosos, devido a esta absurda existência. Sobre a sua inscrição - Zan Kronou, i.e. Zeus filho de Crono - devo dizer que me parece igualmente críptica, já que nos leva a pensar directamente no mito.
Infelizmente nunca encontrei qualquer mito relativo a este túmulo, mas Lactâncio, no livro I das suas Instituições Divinas, oferece uma possível explicação: este Zeus seria não o deus dos Gregos mas um mortal que, após as suas muitas conquistas entre os seres humanos, se mudou para Creta, onde morreu e começou a ser visto como o grande deus, com o qual acabou por se confundir.
Esta é uma tese partilhada por outros autores, que falavam de vários Zeus (tal como de vários Hermes ou Héracles, demonstrando-se então que este caso não era único), e que tende sempre a assentar num ponto essencial: a existência de vários mortais cujo nome é perpetuado após a morte, e cujos feitos são eventualmente atribuídos a uma única figura. Se, por um lado, isto não nos revela a totalidade do mito por detrás do singular túmulo, pelo menos permite-nos compreender a confusão de mitos associados a dadas figuras, que quase impossibilita a criação de uma cronologia por detrás da vida de cada figura mitológica.
A verdade por detrás de um mito da morte de Zeus, essa, fica por agora adiada. Talvez um dia saibamos a que se devia o tão-notável sepulcro; até lá, as palavras de Lactâncio terão de nos chegar.