O mito das Simplégades
Anteriormente, uma leitora pediu um artigo sobre uma ilha que aparece na Odisseia, "temida pelos marinheiros que, por 'saberem' tratar-se de uma ilha suspensa sobre as àguas, acreditavam que podia mudar de sítio". Possivelmente, trata-se de uma referência a um conjunto de duas rochas que, ao aproximarem-se uma da outra, esmagavam os navios que por lá passavam. Estas rochas, que tinham o nome de Simplégades, surgem em duas grandes obras gregas. Na Odisseia, a personagem principal opta por um outro caminho, que o leva aos monstros Cila e Caribdis, em deterimento de confrontar os perigos que estas rochas apresentavam, os quais levariam a uma morte quase certa.
Contudo, no mito de Jasão e os Argonautas, os heróis acabam realmente por passar por estas rochas. De acordo com uma profecia que lhes fora apresentada, largaram uma pomba nas direcção das rochas, e só se esta passasse é que eles poderiam tomar tal caminho; tal como a pomba ficou sem algumas penas, algo similar sucedeu ao famoso navio, apesar de todos os heróis terem sobrevivido a esta experiência. É, também, curioso o evento que se seguiu - depois da passagem de Jasão e dos Argonautas, estas rochas fecharam-se pela última vez, e jamais voltaram a afastar-se.
Em termos práticos, qual o significado deste mito das Simplégades? Bem, a hipótese mais directa tem a ver com a existência de um estreito que, aquando da passagem de alguns marinheiros, dava a sensação de que se estava a fechar. Era, claro, pura ilusão, mas poderá ter sido essa a principal ideia geradora deste mito. Quanto ao episódio protagonizado por Jasão e seus companheiros, poderá ser visto como uma simples razão pela qual as famosas rochas já não podiam ser encontradas, pelo menos não com todas as características que as caracterizavam originalmente.