O mito de Erictónio, filho de Atena
O mito de Erictónio é muito invulgar. Se há um atributo que bem caracteriza a deusa Atena é a sua virgindade perpétua. Tanto no seu caso, como no de Ártemis, são incontáveis os mitos que referem essa ausência de maternidade. Mas, ainda assim, os Gregos consideravam que a deusa era virgem mas tinha tido um "filho" - Erictónio. Recordamos então o que aconteceu nesse seu mito:
Um dia, o deus Hefesto encontrou-se a sós com Atena. Cheio de desejo amoroso, tentou violá-la, mas falhou no seu propósito - não conseguiu penetrar a deusa, caindo a sua semente somente na pele desta filha de Zeus. Naturalmente incomodada, a deusa limpou-se rapidamente, atirando a substância geradora para o chão... e daí nasceu Erictónio!
Estonteada com uma tão invulgar ocorrência, Atena colocou o "filho" dentro de uma enorme jarra e deu-a às filhas de Cécrope, rei de Atenas, deixando-lhes claro que nunca deveriam olhar para o seu interior. Mas, como já é comum em mitos como estes, as jovens não conseguiram suster a sua curiosidade - vendo Erictónio, foram conduzidas à loucura e atiraram-se da Acrópole. E, mais tarde, este Erictónio tornar-se-ia rei de Atenas...
Este é um mito curioso, que não pode deixar de suscitar diversas questões. A mais óbvia é, quase certamente, o que terão as jovens visto no interior da jarra? O que as terá conduzido à loucura? Se a imagem acima até mostra Atena com o "filho", a resposta está aí parcialmente oculta - segundo algumas versões do mito, da cintura para baixo Erictónio tinha o corpo de uma serpente, o que poderá ter traumatizado quem viu essa forma tão grotesca.
Muito mais poderia ser dito sobre este mito, mas ele parece ter tido, essencialmente, a função de unir a deusa com a monarquia ateniense, legitimizando o poder através de uma figura divina que, de outra forma, não poderia ter sido matriarca de uma sequência de reis.