O mito de Faetonte
O mito de Faetonte, figura também conhecida como Fáeton, apresenta uma daquelas tramas de que todos já teremos ouvido falar, nem que seja de uma forma muito vaga. Por isso, nada como o recordar por aqui, nos seus traços mais gerais.
Quando era criança, Faetonte não conhecia o seu pai, mas a sua mãe sempre lhe disse que ele era filho de Hélio, o Sol. Então, um dia o jovem foi a um templo consagrado a este deus e rezou-lhe repetidamente, esperando assim atrair o seu pai. Hélio lá surgiu, vindo dos céus do Olimpo, e informou este jovem que ele era, verdadeiramente, seu filho. E depois, talvez como forma de o recompensar pelo facto de nunca o ter conhecido antes, decidiu conceder-lhe um desejo. Prometeu, jurou pelo Estige, fazê-lo.
O imprudente filho já sabia o que lhe iria pedir. E então, contra todos os desejos de seu pai, que tentou demovê-lo de um tal pedido, quis apenas uma coisa - conduzir o carro do Sol, a espécie de carruagem pertencente ao deus, durante um só dia.
Inicialmente tudo correu bem, mas depois, enquanto cruzava os céus, Faetonte perdeu o controlo do carro divino e precipitou-se sobre a terra, queimando parte do mundo e, assim dando a cor escura a todos os Africanos. Com um certo receio do que se poderia vir a passar, Zeus decidiu intervir em toda a situação e fulminou o jovem em queda, impedindo um desastre maior. As irmãs do herói, muitíssimos tristes com toda a ocorrência, choraram durante dias e dias, até que foram transformadas em choupos na margem do Rio Eridano, e as suas muitas lágrimas em pedras de âmbar.
Pode parecer estranho ao leitor comum que os Africanos sejam negros porque este herói os estorricou, mas essa parte do mito até aparece nos Lusíadas, de Luís de Camões. É um elemento famoso da história, mas há que frisar que mesmo na Antiguidade os diversos autores tinham um certo cepticismo face a todo este mito. Uma e outra vez, e até mesmo nos tempos de João Tzetzes (no século XII da nossa era), foram muitos os que se dirigiram ao Rio Eridano em busca dos choupos e da âmbar, que pensavam que lhes provariam a verdade de toda a história, apenas para não encontrarem nenhum dos dois no local. Desiludidos, deixaram-nos um óbvio cepticismo nas linhas das suas obras. Mas, na verdade, não serão de cepticismos como esses que são feitos os mitos, da sua localização entre a certeza e a incerteza?
É sobre isso que fala o mito de Faetonte. De um jovem muito imprudente na sua notória juventude, é certo, mas também de uma necessidade que os Gregos e os Romanos sentiam em explicar o mundo através das suas histórias. E, por vezes, sabiam admitir que podiam estar errados, que uma história era somente isso, uma pura ficção, que nem sempre tinha um fundo de realidade, como o mito de hoje nos demonstra.