O mito de Himeneu (ou Hímen)
O mito de Himeneu, figura também conhecida como Hímen, é um de aqueles que ainda tem alguma importância significativa no mundo de hoje, mas que, ainda assim, poucos reconhecem. Por isso, contrariamente ao que é aqui habitual, hoje começamos pelo fim de toda esta história, antes de retrocedermos para o seu início mitológico na Grécia Antiga.
Seguindo essas linhas, quem procurar a palavra himeneu num dicionário dos nossos dias - porque ela ainda existe - depressa pode descobrir que ela tem o significado duplo de casamento e boda. Já não é uma palavra muito usada, naturalmente, mas é esse o significado real que se lhe atribui no dicionário, surgindo por vezes até com uma espécie de sinónimo em hímen. E porquê? Compreender isso passa por contar aqui o mito grego de hoje.
Em outros tempos viveu Himeneu, um jovem muitíssimo belo que, conforme referem sempre os mitos, era "tão bonito como uma jovem mulher". Ele apaixonou-se e quis casar com uma jovem, mas os pais desta não lhe davam a respectiva permissão. Depois, um dia, quando as jovens dessa cidade de Atenas estavam a celebrar os Mistérios de Elêusis, foram raptadas por piratas. Seria esse todo o fim da sua história, presume-se, não fosse o facto do jovem ter testemunhado esta ocorrência e, face a ela, se ter introduzido no grupo dessas mulheres. Posteriormente, ele matou todos os raptores, conduziu as jovens de volta a casa, e face a essas acções honrosas lá lhe foi permitido casar com quem ele desejava. E, talvez por todas estas suas acções, ou talvez pelo final feliz da sua própria história, e conforme nos informa Sérvio, a memória deste nome foi sendo sempre prolongada aquando dos casamentos nessa cultura grega e latina da Antiguidade.
E porquê, poderiam agora perguntar? Infelizmente, o autor latino não nos preserva uma explicação totalmente completa, mas é provável que este mito de Himeneu fosse na sua altura uma recordação de um tempo muito mais antigo em que este tipo de relações amorosas eram tornadas públicas com base num rapto ritual, como até ainda hoje acontece em algumas culturas. Deveria, portanto, nessa altura existir uma (fingida) rejeição pelos pais da rapariga, seguida por um (falso) rapto, o homem salvava a sua amada desses raptores (fictícios), e toda a sequência levava a um momento em que o casal fazia amor pela primeira vez. Só então, com esse consumar do acto amoroso, é que um casamento era tornado legal, como que pela bênção metafórica de um divinizado Himeneu, com essa quebra do chamado hímen feminino. Muito curiosamente, nesta história nunca é dito que ele foi o primeiro a cometer esse acto, como seria de supor e como acontece em muitos outros mitos que explicam rituais, mas como também soaria muitíssimo estranho neste caso em particular.
Agora, se, hoje em dia, já ninguém pensa muito nessas coisas, o nosso nome do hímen, e de todo aquele (agora quase esquecido) conceito da outrora significativa virgindade feminina, poderão ter tido a sua origem na nossa cultura ocidental em rituais preservados em mitos como este. Depois, ao longo do tempo, isso levou a que o nome do jovem divinizado se tenha indo confundindo com a palavra e o acto religioso que em outros tempos o celebraram, tornando-se ele uma espécie de representação física de todo o acto do casamento, não por ter sido ele o primeiro a realizar um, mas talvez por relembrar um ritual que, supostamente, já poderia estar mais esquecido no tempo dos Romanos, em que o casamento parecia ser celebrado de forma um pouco diferente.