O mito de Mirra
Sobre o mito de Mirra, devo dizer que é um daqueles que tem múltiplas versões. Se, por um lado, existem detalhes comuns em todas elas, existe também uma grande diferença final. Veja-se então a versão básica do mito:
Mirra nutria uma enorme paixão pelo seu próprio pai. Com a ajuda de uma ama acabou por ter sexo com ele, e até engravidou dessa relação. Afastando-se do local onde vivia, foi eventualmente transformada pelos deuses na árvore a que veio a dar o nome. Quanto à criança, fruto desta infrequente e horrenda relação, acabaria por nascer da própria árvore.
Para além destes detalhes muito básicos, as múltiplas versões do mito adicionam alguns elementos extra. Por exemplo, um autor refere que a paixão de Mirra foi causada por Vénus, que invejava a sua beleza. Outro refere que o auxílio da ama surgiu na sequência de uma tentativa de suicídio. Se alguns autores não dão nome ao filho de Mirra, outros referem que foi daí que nasceu Adónis. O local e circunstâncias da transformação em árvore, bem como do nascimento do filho, também varia bastante. Ainda assim, nenhum deles se afasta realmente dos elementos mencionados acima, razão pela qual preferi cingir-me a esses elementos, se bem que muitos pobres, na referência ao mito.
Agora, qual é o objectivo, a razão de ser, deste mito? Como muitos dos mitos que envolvem transformações, parece-me aconselhar os leitores a não violarem alguns tabus sociais (neste caso o incesto), sob pena de serem punidos pelos deuses. Numa leitura menos aprofundada, poderemos aqui extrair a razão pela qual uma dada árvore parece chorar.