O mito de Pítis (e o pinheiro)
O mito de Pítis vem-nos da Mitologia Grega. Podia ser apenas mais uma de tantas histórias de metamorfoses, mas o que ele tem de especial é o facto de nos terem chegado duas versões distintas da sua pequena aventura, com mensagens significativamente contraditórias.
Na primeira versão do mito de Pítis, esta ninfa era disputada por dois deuses, Pã e Bóreas (i.e. o vento do norte). Sempre mostrou especial paixão pelo primeiro, e então o segundo, num dia em que se sentiu mais invejoso da felicidade alheia, soprou-a com muita força da beira de um penhasco, levando-a a cair e conduzindo-a à sua morte. Os outros deuses, seja com pena de Pã ou da sua falecida amada, depois transformaram-na num Pinheiro, que ainda hoje se movimenta ao sabor do vento, como que a tentar fugir daquele que um dia a martirizou.
Numa outra versão do mesmo mito, Pítis era amada pelo deus Pã mas não sentia nada por ele. Um dia, enquanto este deus de estranha figura a perseguia, quase que a conseguiu apanhar, pretendendo violá-la. No entanto, os deuses, com pena de toda a situação que estava prestes a gerar-se, transformaram-na em Pinheiro. A sequência não pode deixar de nos recordar as muitas Metamorfoses de Ovídio.
É muitíssimo curioso, este duplo papel que o deus Pã tem em duas versões do mito de Pítis. Mesmo após várias horas de discussão, demos por nós a constatar que são muito raros os mitos em que situações como estas têm lugar, em que duas figuras, mediante a versão, sejam unidas ou pelo amor, ou pelo ódio. Não obstante esse problema, as razões por detrás de todo este mito são fáceis de entender - o deus caprino era frequentemente representado com uma pinha, o que se procura explicar aqui fazendo dela um símbolo de uma sua antiga amada, como também acontece em muitos outros mitos - e.g. o de Apolo e Dafne. Assim, fosse Pã amado (ou não) por esta ninfa, não pôde deixar de se lembrar dela após o final de toda a história, e assim fez da pinha o seu símbolo divino pessoal.