O mito de Plístene, o misterioso atrida
É provável que nos mitos da Grécia Antiga poucas figuras sejam tão misteriosas como Plístene, um dos elementos da família dos Atridas. Na verdade, nem conseguimos encontrar qualquer imagem da sua figura para ilustrar estas linhas, pelo que acabámos por decidir-nos pela famosa "porta dos leões", em Micenas, a famosa cidade de Agamémnon e Menelau. Mas quem foi então Plístene?
Sabemos, acima de tudo, que era uma figura da família dos Atridas, mas a sua posição concreta na árvore genealógica é muito controversa. Segundo uma versão, ele era irmão de Atreu e Tiestes; segundo outra, era filho de Atreu; uma terceira diz que era filho de Tiestes; numa quarta, ele é o verdadeiro pai de Menelau e Agamémnon, posteriormente adoptados por Atreu; uma quinta faz dele já um (obscuro) filho de Menelau, que até poderá ter recebido esse nome em homenagem a um familiar que lhe era anterior.
O que têm em comum essas referências? São todas elas muitíssimo breves, quase como se Plístene não fosse mais que um mero nome... e, na verdade, as Fábulas de Higino permitem-nos em parte compreender o porquê. Esse autor, que nem sempre é dos mais fiáveis, revela-nos que Atreu cozinhou o filho de Tiestes e o serviu como jantar ao próprio pai, mas que quem foi morto e cozido não foi somente um único filho (como é comum nos relatos deste episódio mitológico), mas sim dois descendentes, um dos quais era este Plístene. Infelizmente, existem várias descrições diferentes desse episódio mitológico, mas acreditando na versão de Higino o problema poderá ter passado pela confluência de duas figuras numa só. Nas versões mais famosas o filho que foi comido é trazido de volta à vida por intervenção divina, mas se fossem dois os irmãos envolvidos no episódio acabariam por surgir um conjunto de complicações maiores, podendo-se assim justificar essa fusão.
Por isso, mesmo que queiramos acreditar na versão de Higino, o que aconteceu então a Plístene? A genealogia de Agamémnon e Menelau não é completamente estável, os mitos dos seus antecessores apresentam elementos muito variáveis, o que poderá ter levado a um esquecimento progressivo de alguns dos momentos menos horizontais nas suas histórias. Se até existem, aqui e ali, algumas breves referências a esta figura misteriosa escondida por detrás do mito de Plístene - por exemplo, uma delas diz que ele era hermafrodita e/ou transexual, mas essas alusões nunca são explicadas... - elas raramente têm elementos horizontais, repetidamente comuns, sendo possível que esta se tratasse de uma figura pré-homérica que, por razões agora desconhecidas, foi caindo no esquecimento.