O mito de Sísifo em resumo
De entre os que nos chegaram da Antiguidade, é possível que o mito de Sísifo se encontre entre aqueles cujo desfecho é mais famoso, ao ponto da sua punição infindável ter dado, por exemplo, o nome e a ideia a um famoso livro da autoria de Albert Camus. Mas já lá iremos, por agora recorde-se a trama essencial desta história da Mitologia Grega:
Conta-se que Sísifo terá sido um dos maiores espertalhões da Antiguidade, uma espécie de um determinado antigo primeiro ministro português mas há muitos séculos atrás. E, na verdade, dizia-se que ele até se considerava mais sábio e capaz do que o próprio Zeus, o rei dos deuses do Olimpo. Então, depois de uma vida repleta das maiores malfeitorias, cujos contornos e eventos variam de versão para versão, o monarca do Olimpo decidiu que já era altura de alguém punir este rei de Corinto e condenou-o à morte.
Na maior parte dos mitos a trama tenderia a acabar por aqui, mas o caso de Sísifo foi bem diferente. Uma e outra vez, ele foi capaz de escapar das garras da própria morte. Numa das histórias, ele pediu à esposa que não lhe fizesse o devido funeral; assim, quando chegou ao barco de Caronte, como não tinha o óbolo necessário para pagar o cruzamento para o reino dos mortos, teve de voltar para trás (e à vida). Numa outra, quando Tânato (ou Hades, mediante a versão) se preparava para o agrilhoar, o herói enganou-o e prendeu essa divindade, fazendo com que durante várias semanas nenhum ser vivo falecesse. E fez outras maldades como estas... ás tantas, os deuses lá se fartaram e prenderam mesmo este espertalhão, condenando-o para toda a eternidade a levar uma grande pedra para o topo de uma montanha, apenas para rapidamente a ver a cair desse local, obrigando-o a recomeçar todo o trabalho.
Como podemos ver através deste pequeno resumo, o grande interesse do mito de Sísifo não passa tanto pelos seus actos em vida - como é muito comum nestas histórias, que vulgarmente terminam com a morte do herói - mas pela forma como, uma e outra vez, foi capaz de iludir o próprio fim da vida humana, levando a que os deuses o condenassem a uma punição completamente original (para outros exemplos, podem ser vistos mitos como os das Danaides, Ixion ou Tício). E, nesse contexto, a sua eterna punição parece fazer muito sentido - condenado a um trabalho que não tem fim, é provável que os deuses tenham pensado que essa tarefa acabaria por vergar a vontade do condenado, mas... segundo Albert Camus, no seu livro Mito de Sísifo, também é possível ver nessa tarefa de completa inutilidade uma espécie de metáfora para a própria vida humana, em que demasiadas vezes repetimos (inutilmente) as mesmas acções sem alguma vez conseguirmos chegar a algum lado. Dá que pensar, não é?