O mito de Zagreu, o primeiro Dioniso (ou Zagreus)
Na Mitologia Grega existem algumas histórias bastante estranhas, entre as quais se conta o mito de Zagreu (ou Zagreus, como alguns preferem chamá-lo). Não é uma trama muito conhecida - na verdade, só nos parece ser contada de uma forma completa no épico de Nono de Panópolis, por volta do século V da nossa era - pelo que achámos que a poderíamos recordar:
Numa das suas muitas aventuras sexuais, Zeus tomou a forma de uma serpente e envolveu-se com Perséfone. Então tornada grávida, a jovem deu à luz uma criança que viria a ser conhecida como Zagreu. Um dia, quando esta estava a brincar, foi capturado pelos Titãs, que o partiram em mil pedaços antes de o devorarem quase completamente - sobrou apenas o seu coração, que os deuses levaram para o Olimpo.
O mito poderia ficar por aqui, mas neste caso específico até tem uma espécie de continuação muitíssimo inesperada. Os deuses gregos não eram omnipotentes (como a morte de Sarpédon na Ilíada bem nos mostra), mas tinham muitos recursos ao seu dispor. Então, o pai Zeus - e deixe-se claro que esta figura não era filho de Hades, como alguns parecem pensar - decidiu reduzir a pó o coração de Zagreu, colocou-o numa bebida e deu-a a beber a Sémele, que ficou grávida. O filho de ambos viria a ser o famoso Dioniso (já cá fizemos uma breve alusão a esse mito), deus do vinho e da vinha, que na verdade era uma reencarnação do falecido Zagreu, conhecido entre alguns autores como o "primeiro Dioniso". Por isso, esse mesmo deus teve um só pai mas duas mães distintas - ele ainda era o filho falecido de Perséfone e Zeus, mas também se torna uma figura completamente nova, nascida do ventre de Sémele pela influência divina do mesmo monarca dos deuses do Olimpo.
O que quer isto dizer? Em suma, que Zagreu e Dioniso são quase um só deus, duas figuras que acabaram por partilhar um mesmo corpo (aquele que nos ficou conhecido sob o nome do deus do vinho), naquele que pode ser considerado um dos eventos mais estranhos dos mitos da Grécia Antiga.