O mito do deus Jano
De entre as figuras e mitos da Mitologia Clássica e Romana, poucas são tão singulares como o mito romano do deus Jano, conhecido entre esse povo como Janus, e que até levou ao nome do nosso primeiro mês do ano. Este deus, que não existia na Mitologia Grega e que apenas surge com os descendentes de Eneias, Rómulo e Remo, apresenta em todas as imagens duas caras, ou duas faces, que apontam em direcções opostas. Então, no primeiro livro de Fastos, Ovídio conta-nos a história desta divindade. Segue-se uma breve referência à mesma:
Os Antigos chamavam Caos a esta divindade que, originalmente, não tinha sequer forma. Aquando da criação dos elementos que hoje temos, esta bola de massa transformou-se então no corpo de um deus.
Mas porquê a sua forma tão singular, com duas caras? Também isso nos é contado por Ovídio:
Tal como as portas têm dois lados, e um porteiro fica por fora, também este deus era então o porteiro da corte divina, e com as suas duas faces podia então olhar para lugares opostos, tal como Hécate (com suas três faces) podia vigiar atentamente as intersecções das estradas.
Se entende, assim, que a singular forma deste Jano tinha directamente a ver com a sua função de porteiro, tanto da residência dos deuses como, já nos nossos dias, da entrada num novo ano. Contudo, as considerações de Ovídio levam-me a concluir algo muito mais curioso: contrariamente ao que se poderia pensar, a omnipresença (e, por conseguinte, também a omnipotência) não era uma características dos deuses gregos e romanos.
Em relação a este mesmo deus, é também clarificado um outro ponto. Na altura, existia em Roma um templo dedicado a este deus, cujas portas apenas fechavam em tempo de paz (algo que, segundo Tito Lívio, só sucedeu duas vezes em oito séculos). E porquê, esse mudança? Segundo Ovídio, que aqui continua a falar com a voz do deus, eram duas as razões - para que quando alguém vai para a guerra também encontrasse o caminho de volta aberto, e para que a paz não fugisse pelas portas abertas do templo.