O mito grego de Tâmiris, o primeiro homossexual
Tâmiris é uma daquelas personagens da Mitologia Grega que não é muito conhecida. Talvez até já lhe tenham lido uma alusão ocasional aqui e ali, mas ele não é, certamente, o que se possa chamar um herói de primeira linha, alguma espécie de figura a que os diversos autores recorram uma e outra vez. Em alternativa, são essencialmente duas as aventuras que lhe são atribuídas, uma muito mais famosa que a outra, mas que em ambos os casos merecem hoje ser recordadas por aqui.
A primeira das aventuras de Tâmiris conta-nos, quase exclusivamente, que ele foi um dos amantes de Jacinto (um mito ainda não contado por aqui antes, mas que terá de ficar para outro dia). Se esse outro jovem depois acabou por preferir o deus Apolo, como bem sabido do seu mito, o que nos importa aqui, para a figura de hoje, é que algumas versões dizem que esta figura e esse seu antigo companheiro foram o primeiro par de amantes homossexuais humanos. Alguns autores discordam, claro, mas pelo menos alguns escritores da Antiguidade deixaram-nos essa opinião!
Anos depois, Tâmiris voltava a casa quando teve uma ideia muito pouco vulgar - ele decidiu desafiar as Musas para um concurso musical. Se ele ganhasse, as várias irmãs tinham de fazer amor com ele (ou, segundo outra versão, uma delas tinha apenas de casar com ele); se perdesse, ele dava-lhes o que elas quisessem. Agora, como é sabido de casos semelhantes - recorde-se, por exemplo, o mito de Marsias - é óbvio que as Musas ganharam esse desafio, tendo por base os seus infinitos talentos musicais... o que se seguiu nem sempre é totalmente claro, mas sabe-se é que o herói nunca mais voltou a tocar música, com algumas versões a explicarem que isso se deveu ao facto de ter ficado cego, talvez por castigo das irmãs divinas.
O mito de Tâmiris, a que alguns também dão o nome menos comum de Tâmaris (os textos gregos chamam-lhe Θάμυρις, fazendo portanto mais sentido o primeiro dos dois nomes...), não é tanto sobre a homossexualidade do herói, algo que na altura se tornaria relativamente comum - relembrem-se os possíveis casos de Aquiles e Héracles - mas sobre a confiança exacerbada com que ele desafiou as entidades divinas. Como em muitos outros mitos, essa ideia acaba por ser sempre punida pelos deuses, e por aquele facto de um ser humano ter a imprudente coragem de os tentar desafiar...