O que é heresia na Igreja Católica?
Na verdade, o que é heresia na Igreja Católica?
Quando se fala de questões de crença na Igreja Católica, muitas vezes surge igualmente a ideia de heresia, de se dizer que acreditar em X é correcto mas em Y já não. E isto poderá levar-nos a perguntar, num sentido mais lato, o que é considerado heresia e o que não o é. Certamente que existem muitos livros sobre o tema, mas há algum tempo encontrámos editais de finais do século XVII em que os membros da Inquisição pediam aos crentes que lhes reportassem um conjunto de situações ditas heréticas. Simplificadamente, quais eram elas?
- Baptizados que diziam ou faziam coisas [não especificadas] contra a Igreja;
- "Cristãos novos" que continuavam a praticar os ritos judaicos;
- Baptizados que seguiam a lei de Mafamede [i.e. o Islamismo];
- Aqueles que acreditavam nos ensinamentos de Lutero, Calvino, e outros heréticos dos seus tempos;
- Quem negava que o corpo de Cristo estivesse mesmo na hóstia;
- Quem duvidava de, ou negava, uma existência do Paraíso, do Inferno e do Purgatório;
- Quem duvidava, ou negava, que o pagamento de missas, orações e esmolas ajudavam quem estava no Purgatório;
- Quem achava que se podia confessar somente a Deus, em vez de o fazer aos sacerdotes;
- Quem duvidava dos "Artigos da Fé" [i.e. as afirmações que são feitas na oração do Credo];
- Quem negava os sacramentos da Igreja;
- Quem acreditava na existência do Destino;
- Quem acreditava que a fé sem obras bastava;
- Quem acreditava que o nascimento era o princípio de tudo, e a morte o seu final;
- Quem não venerava os santos ou as suas relíquias;
- Quem pensava mal dos votos, religiões e cerimónias da Igreja;
- Quem negava que o Papa pudesse perdoar os pecados;
- Quem negava que os jejuns ordenados pela Igreja deviam ser feitos;
- Quem não acreditava que Maria foi virgem antes, durante e após o parto;
- Quem fazia feitiçarias, e para elas até usava coisas da Igreja;
- Quem praticava "Astrologia Judiciária" [i.e. a previsão do futuro pelo movimento das estrelas];
- Quem possuía livros proíbidos;
- Quem fingisse confessar os outros;
- Quem confessava crimes que não cometeu;
- Quem praticava sodomia;
- Funcionários da igreja ("priores, vigários, reitores, curas, ...") que não lessem, em voz alta e nas suas igrejas, o conteúdo de proibições como estas.
Se, em parte, algumas destas proibições se compreendem facilmente, já outras são um tanto ou quanto absurdas, relembrando-nos de uma criança birrenta que, quando não são feitas as suas vontades, diz "és mau, não gosto de ti" e outras coisas que tais. Felizmente, esses tempos já lá vão há muito, e os crentes já não sofrem vergastadas por coisas como estas...