O Romance de Abenámar
O Romance de Abenámar é um pequeno poema castelhano de autoria e datas desconhecidas, mas que fala de um episódio histórico que, muito provavelmente, terá acontecido na primeira metade do século XV, uns séculos depois das aventuras de El Cid, mas numa altura em que Espanha ainda estava parcialmente sob o jugo dos Mouros.
A sua trama é extremamente simples - Dom João II de Castela encontra-se com o Mouro Abenámar, talvez até nascido nesta cidade, e pede-lhe que lhe fale de um panorama que ambos então tinham à sua frente. O segundo destes intervenientes conta-lhe, de forma muito breve, os principais edifícios da cidade, que talvez até possam ser aqueles ainda hoje vistos no mesmo local. Depois, para terminar e face à enorme beleza do local, o monarca como que pede a cidade em casamento - "Si tú quisieras, Granada, / contigo me casaría, / daréte en arras y dote / a Córdoba y a Sevilla" - ao que esta lhe responde com as seguintes palavras: "Casada soy, rey don Juan, / casada soy, que no viuda, / el Moro que a mí me tiene / muy grande bien me quería."
Trocando então por miúdos as metafóricas palavras presentes neste Romance de Abenámar, o rei queria tanto conquistar essa cidade que por ela estava disposto a abdicar das localidades de Córdova e Sevilha, mas Granada relembra-o que ainda é casada, "não é viúva", além de acrescentar uma ideia segundo a qual esse Mouro - cujo nome não é relatado no poema - também gosta muito dela. É um final poético maravilhoso, essa visão de uma cidade como se de uma verdadeira mulher se tratasse, que para poder pertencer a um homem tem igualmente de abandonar um outro. E, por isso, mesmo que em poucas linhas, não pudemos deixar de achar interessante trazer aqui este belo final!