O verdadeiro Juramento de Hipócrates
O verdadeiro Juramento de Hipócrates, uma prenda para todos os médicos e profissionais de saúde que tanto têm trabalhado estes dias! No passado, já mencionámos que hoje em dia existem as mais diversas "versões" do Juramento de Hipócrates, entre elas duas disponíveis no site português da Ordem dos Médicos, mas... afinal, o que diz verdadeiramente o juramento original, aquele que se acredita que Hipócrates escreveu? Fomos em busca do texto original em Grego Antigo e seus fragmentos, comparámo-lo com diversas versões (Latinas, Bizantinas, mais recentes, etc.), procurámos ainda traduções dos nossos dias, e com base em toda essa informação podemos então apresentar esta tradução do original:
Eu juro por Apolo Médico [i.e. um dos epitetos do deus de Delfos], por Esculápio [deus da Medicina], por Higeia [deusa da saúde], por Panaceia [deusa da cura], e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, a tarefa de cumprir, segundo o meu poder e a minha razão, a promessa que se segue:
Estimar, tanto quanto aos meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer com ele vida comum e, se tal for necessário, partilhar com ele os meus bens; considerar toda a sua família como meus próprios irmãos e ensinar-lhes esta arte, se eles quiserem aprendê-la, sem remuneração nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, lições e ensino, aos meus filhos, aos do meu mestre, e aos discípulos que fizeram este mesmo juramento, mas a mais ninguém.
Aplicarei o tratamento para ajudar um doente de acordo com o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou fazer mal a alguém. Não administrarei a ninguém um veneno se isso me for pedido, e jamais sugerirei esse caminho. Do mesmo modo. não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva. Mas conservarei como pura e santa a minha vida e a minha arte. Não usarei a faca, nem mesmo quando [a pessoa] tiver cálculos, deixarei essa operação para quem estuda essa prática.
Em todas as casas em que eu entrar, fá-lo-ei para ajudar o doente, mantendo-me longe de todo o dano voluntário, especialmente de abusar do corpo de um homem ou mulher, escravo ou liberto. Aquilo que no exercício da minha profissão, ou fora dele mas no meu convívio com a sociedade, que não seja preciso divulgar, eu guardarei como secreto.
Se eu cumprir este juramento, e não o quebrar, que eu ganhe para sempre reputação entre os homens pela minha vida e pela minha arte; mas se o quebrar e me afastar dele, que o contrário me aconteça.
Não é, como é fácil perceber, um texto muito longo, mas sim um pleno de significado. Poderia até ser um texto imortal, não fosse o facto de, cada vez mais, se sentir uma necessidade de manter a sua simbologia mas alterar o seu significado, quando não há qualquer necessidade real disso. O Juramento de Hipócrates deve ser isso mesmo, um juramento médico tal como apresentado pelo famoso médico grego, e é estranho que o seu nome seja tão mantido nos nossos dias mas que o seu espírito e texto seja constantemente alterado - na verdade, os médicos com quem falámos pensavam, todos eles, que o juramento que escolheram fazer era o original, aquele que Hipócrates nos deixou... Se é para, metaforicamente, se colar cornos num gato e lhe chamar um touro, pelo menos que se avise as pessoas de que o animal originalmente miava...