"Omnia vincit amor", origem e significado
Omnia vincit amor é muito provavelmente uma das expressões latinas mais famosas dos nossos dias, até porque ainda hoje continua a ser muito utilizada nessa sua forma original, em Latim. Em tradução, pode significar algo como "o amor vence tudo" ou "Tudo o amor conquista". Até aqui não há nenhuma dificuldade, mas qual a origem de toda esta famosa frase e ideia?
Sem muita dificuldade, qualquer pessoa pode fazer uma pesquisa na internet e descobrir que esta frase latina, que também pode tomar a forma de amor vincit omnia, já que a ordem das palavras no Latim é irrelevante - nos chegou através de uma das éclogas pastoris de Virgílio. Quem a for ler poderá aperceber-se da presença do deus Pã nesses versos, cujo nome em grego (Πάν) poderá designar tanto esse deus como significar "tudo", como um estranho mito associado a Penélope, esposa de Ulisses, nos deixa compreender.
Nesse sentido, existem vários exemplos na arte grega e romana da Antiguidade em que figuras relativas ao amor, como os Erotes, são associadas directamente ao deus Pã. Entre elas contam-se uns vasos (que, infelizmente, não conseguimos obter autorização gratuita para reproduzir aqui), em que este deus é representado a fugir dessas figuras, que o perseguem com chicotes, procurando castigá-lo de alguma forma. Porque o fariam? Não nos parece ter chegado nenhum mito que o explique explicitamente, mas poderá dever-se a uma oposição metafórica entre o desejo puramente sexual de Pã e uma espécie de amor que hoje se pensa ser mais elevado, de se desejar alguém por tudo aquilo que essa pessoa é.
Nesse seguimento, a ideia presente em Omnia vincit amor poderá ter vindo da cultura grega da Antiguidade, de representações e ideias em que, originalmente, o deus Pã era vencido pelo amor, numa ideia que no original poderia dizer - ou mesmo representar, iconograficamente - algo como "o amor [até] vence Pã [ou Tudo]", jogando-se com um duplo sentido do nome do deus que não é possível reproduzir em Latim ou Português. Não sabemos se Virgílio, na sua écloga já referida acima, procurou brincar de uma forma deliberada com toda esta ideia, ou se apenas fez perder na tradução algo do sentido original, mas é provável que até o tenha feito intencionalmente, já que nos seus versos ele une a sua frase latina com o próprio deus da Arcádia, usando até aí o nome grego Pan em vez de latino Silvanus ou Faunus, que por vezes designa a mesma divindade entre os Romanos.
Se tudo isto seria mesmo intencional, ou não... fica essa questão para quem ler estas linhas!