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Mitologia em Português

26 de Setembro, 2023

Os cartazes esquecidos do Monte Estoril (e a Avenida do Lago, que não o tem!)

Hoje, ao falar-se sobre estes cartazes esquecidos do Monte Estoril, talvez mereça começar-se o tema com uma brevíssima introdução mais pessoal. Por vezes, vamos tirando fotografias para ilustrar publicações futuras ou para recordar algum pormenor mais digno de nota, como aconteceu com o tema da Nossa Senhora do Guincho. Alguns desses temas acabam por tomar forma e aparecer por aqui (e.g. o caso da Lenda da Peninha), mas outros vão ficando pelo caminho ou sendo adiados (quase) indefinidamente. E o tema de hoje parte desse último grupo, de algo que por repetidas vezes se pensou abordar por aqui, mas que de forma igualmente repetida se foi adiando, até que uma leitora francesa nos pediu mais informação sobre isto, levando-nos a finalmente escrever sobre tudo isto...

A entrada do Jardim Carlos Anjos, no Monte Estoril

Indo então ao tema de hoje, no Monte Estoril, muito próximo da povoação portuguesa de Cascais, existe um pequeno jardim de nome Jardim Carlos Anjos, em homenagem ao principal fundador da zona. Muito mais poderia ser dito sobre o tema, mas o que nos interessa, hoje, é um cartaz que pode ser visto à sua entrada, que está colocado mais ou menos ao centro na imagem acima. Ele está dividido em quatro partes, três delas com conteúdos publicitários e uma quarta com informação turística. Agora, isto pouco ou nada teria de especial, não fosse o facto do cartaz se encontrar no local há décadas, sem jamais ter sido actualizado, o que permite ao visualizador fazer uma espécie de viagem no tempo até ao passado de toda esta região.

Um dos cartazes do Monte Estoril

Começando do lado esquerdo, a primeira parte do cartaz anuncia o que parecem ser duas empresas de aluguer e venda de imóveis, a "Stella Gameiro, Lda." e a "Gameiro & Graça, Lda." Segundo foi possível apurar, a segunda destas ainda existe, continua até no que chamavam "Birre Commercial Centre", mas os números de telefone já mudaram há muito (no cartaz, ainda tinham apenas sete dígitos, sem indicativo).

Por baixo, um pequeno anúncio a um "Patrick", que se dizia "Cabeleireiro - Estilista". Ele já não está no local anunciado, fechou aí em 1996.

Segue-se um anúncio ao "Clube Mimosa", que nessa altura tinha "banquetes, salas de conferências, health club, tennis, lojas diversas, piscinas aquecidas, putting green". Mais abaixo chamam-lhe também "Complexo Turístico Mimosa, Lda." O local ainda existe, mas parece ter perdido esse seu fulgor inicial, com muitas das lojas a serem substituídas por outras ao longo do tempo.

Depois, uma loja chamada "Isto e Aquilo", que vendia "Artesanato Português" e que estava localizada no cascalense Largo da Misericórdia. Aparentemente já não existe, talvez perdida entre dezenas de lojas semelhantes que agora existem nessa vila.

Ainda, uma empresa que se parece ter chamado "Y Ludus", ou "Ludus". Quase nada se diz sobre ela, não existe uma morada ou número telefone, tornando impossível localizá-la.

 

Continuando para a segunda parte do cartaz, esta é curiosa porque apresenta o Estoril em três línguas - Português, Inglês e Francês - mas fá-lo sem que exista uma verdadeira correspondência de tradução entre elas. Dizem, é verdade, mais ou menos o mesmo, mas a forma como o fazem parece ter sido adaptada para melhor cativar o interesse de cada um dos povos. Para quem estiver com curiosidade sobre o seu conteúdo, basicamente eles apresentam o que existe na localidade de uma forma bastante breve.

Outro dos cartazes do Monte Estoril

A terceira parte, reproduzida acima, apresenta um restaurante, obviamente belga, de nome "La Cuisine de Belgique", localizado apenas na "Praia do Guincho". Presume-se que na altura não existissem muitos restaurantes por lá, mas o que se sabe é que já não existe nessa forma original. É provável que tenha sido reocupado pelas chamadas "Furnas do Guincho", um restaurante de preços exorbitantes para enganar turistas.

 

Finalmente, a quarta das quatro partes destes cartazes do Monte Estoril voltam a anunciar o "Clube Mimosa", referindo mais algumas das suas características, mas também apresenta outras lojas.

A primeira, de nome "Riders - Loja Inglêsa de Equitação", dizia ter "everything for the horse and rider", terminando uma enunciação do que vendia com "(...) and many other items for the none rider". Estava localizada no hipódromo de Cascais.

A segunda, de nome "Health Club Gemini", existia no número 514 da Avenida Sabóia, também aqui no Monte Estoril. Já não existe há mais de uma década, tendo sido substituído por diversas outras lojas antes de se tornar, mais recentemente, uma das infindáveis imobiliárias da zona.

Abaixo, uma misteriosa "Casa Manuel", localizada em Bruxelas(!), que dizia ter "Tout le regal du Portugal" e prometia ao leitor "vacances perpetuelles". Uma breve pesquisa revelou que o local ainda parece existir - é um restaurante - mas poderá ter mudado de local.

O último local anunciado nestes cartazes era o "Coconuts", que estava localizado na Estrada da Boca do Inferno 7, em Cascais, e anunciava ter "tiger-bar, café califórnia, terrace, pool, tropical-drinks, fruit-juices, snacks, sweets, coffee, liquers, beers, wines, champagne, white bar, vip-bar, ocean-bar, tenns, private parking, live music, disco, coneerts, video, tv, films, slides". Já encerrou, e todo o espaço é hoje um hotel.

 

Em suma, estes cartazes do Monte Estoril, hoje quase esquecidos no seu local original, preservam-nos uma altura muito específica da evolução da região, em que esta tinha muitos turistas estrangeiros. Poderia dizer-se que ainda os tem hoje, seria correcto, mas o curioso das publicidades presentes no cartaz é que parecem focar-se maioritariamente num público estrangeiro, como se os habitantes locais fossem secundários.

 

É tudo por hoje? Ainda não... resta uma pequena curiosidade, relacionada com este mesmo tema. Algumas das lojas apresentadas no cartaz estavam localizadas numa "Avenida do Lago" do Monte Estoril. Ora, quem for ao local, a menos de um quilómetro de onde estão os próprios cartazes, poderá aí encontrar a avenida mas... nada de "lago", no verdadeiro sentido da palavra! Que lhe aconteceu? A história é antiga e refere-se à própria génese desta localidade. Nessa altura, pensou-se em fazer um grande lago no local, como ainda hoje o há no Campo Grande lisboeta, que até iria ter a sua própria estação de eléctrico (para quem quisesse descer até à praia e apanhar o comboio para Lisboa), mas com o passar do tempo, e igualmente por falta de fundos, lá se percebeu que a ideia não valia muito a pena e desistiu-se dela. Nesse seguimento, hoje resta no local essa "Avenida do Lago" quase circular, como que a demarcar o contorno que o próprio lago ia ter, mas sem que lá existam as águas, os patos e os barcos que outrora se pensaram colocar neste sítio. Existe, curiosamente, é um jardim do lago, em que o espaço se desejava inserir, mas que ainda hoje permanece assim, estranhamente incompleto, mas sem que já alguém pergunte onde estão essas águas...

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