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Mitologia em Português

13 de Novembro, 2023

Os mitos de Niceia e Aura, violadas por Dioniso

Se falar de violações nunca é bom, pelo menos aquelas que tiveram lugar com Aura e Niceia no contexto dos mitos dos Gregos e Romanos são dignas de nota. E são-no porque, quando falamos deste acto horrendo na senda das histórias da Antiguidade, a figura que tendemos a associar-lhe é quase sempre Zeus / Júpiter. Foi ele que tomou as mais diversas formas para seduzir diversas mulheres, com algumas relações sexuais mais consentidas do que outras. Aqui e ali, lá surgem mais alguns exemplos de actos semelhantes - por exemplo, os casos de Pítis ou de Dafne - mas quando se trata de falar de deuses violadores, Dioniso não é habitualmente uma das figuras em que se tende a pensar. Portanto, dada a raridade dessas histórias, decidimos que hoje poderíamos abordar ambas numa só sequência textual.

Os mitos que ligam Niceia e Aura a Dioniso

Primeiro, Aura era uma ninfa companheira da deusa Ártemis. Um dia, enquanto estas duas e as suas outras companheiras tomavam banho num curso de água, a jovem olhou para os seus próprios seios, fitou os da divina companheira, e não pôde senão rir-se - quão maiores, quão mais femininos, eram os da deusa face aos seus próprios! Claro que este pode parecer um "insulto" um tanto estranho, nos dias de hoje, mas devemos é recordar que Ártemis era uma deusa da caça, para quem a beleza física pouco importava, e portanto ela considerou as palavras da ninfa como muitíssimo ofensivas.

O que lhe aconteceu? Por influência indirecta da deusa, Dioniso apaixonou-se por Aura, mas esta sempre lhe recusou todo e qualquer amor. Então, o deus do vinho e da vinha drogou-a com a sua bebida encantada e aproveitou-se dela, roubando-lhe a preciosa virgindade. Dessa relação nasceram uma ou duas crianças, mas a ninfa, humilhada, acabou por se afogar propositadamente, sendo então transformada numa fonte de água, que curiosamente brotou dos seus próprios seios.

 

Também Niceia era uma jovem devota da deusa Ártemis. Um pastor apaixonou-se por ela, mas ela sempre rejeitou os seus amores, levando o jovem a pedir-lhe que o matasse com uma das suas flechas. Estranhamente, ela concedeu-lhe esse desejo, mas os deuses não podiam ter ficado menos satisfeitos com essa morte. E assim, por influência do deus do amor, Dioniso foi feito apaixonar-se por ela... mas ela também o rejeitou a ele, uma e outra vez!

Depois, um dia, quando Niceia andava nas suas caças pelos bosques, sentiu sede e bebeu de uma fonte que encontrou. O que ela não sabia, no entanto, é que o deus do vinho e da vinha tinha "envenenado" o local com a sua bebida. Bêbada, ela decidiu descansar um pouco no local. Adormeceu. E vendo-a assim, só e desprotegida, Dioniso tomou-a para si, engravidando-a até - como era sempre comum no caso das violações divinas. E, à semelhança da figura de que falámos acima, depois teve uma filha dessa primeira e única relação sexual... e foi ela, de facto, que deu o nome à outrora famosa cidade de Niceia!

 

Talvez tenham existido, em outros tempos, mais casos de jovens violadas pelo deus Dioniso, mas o que estas histórias de Aura e Niceia têm de particularmente digno de nota é a ausência de qualquer transformação divina. Poderiam tentar encontrar-se diversas razões para tal, mas é mais importante notar a constância do vinho do deus na sua perpetração destes actos. Casos como esses ainda são bastante frequentes nos dias de hoje, e apareciam até em muitos outros mitos da Antiguidade (e.g. o mito dos Centauros e Lápitas), o que nos poderá levar a pensar que a lição que os Antigos nos tentaram transmitir nunca foi bem aprendida...

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