Os poemas de Sidónio Apolinário
Sidónio Apolinário foi um autor cristão do século V, de nacionalidade francesa (nasceu em Lugduno, hoje Lyons). Chegou a santo, e por razões como essa seria fácil presumir que os seus trabalhos fossem de natureza religiosa. Porém, de uma forma um tanto ou quanto inesperada, os seus poemas - ou Carmina - contêm bastantes referências mitológicas (e algumas históricas, acrescente-se), apesar de serem significativamente limitadas - o autor refere os mesmos mitos uma e outra vez, até de formas semelhantes. Por exemplo, numa dada altura ele resume o mito de Hércules da seguinte forma:
Não irei aqui embelezar os trabalhos de Hércules, a quem o javali, o leão, o Gigante, a Amazona, o visitante, o touro, Erix, os pássaros, Lico, o ladrão, Nesso, o Líbio, os jugos, as maçãs, a virgem, a serpente, o Monte Eta, os cavalos da Trácia, as vacas da Ibéria, o rio lutador, o cão de três formas e o carregamento do céu deram a fama.
Claro que quem conhecer os mitos do famoso herói saberá reconhecer estas referências, e ver até um certo charme nelas, mas quando um mesmo autor se refere ao herói de forma muito semelhante em vários outros poemas, a novidade e beleza do original depressa se perde. Mas, por outro lado, a obra também tem alguns momentos mais notáveis, como quando na sexta composição nos descreve o nascimento da deusa Atena.
É um obra interessante? Dificilmente; talvez seja mais correcto dizer-se que tem alguns momentos interessantes, aqui e ali, mas que o uso que Sidónio Apolinário faz dos mitos da Antiguidade já não é o mesmo dos autores dos séculos anteriores, na medida que os temas que tinha acessíveis poderão parecer, a um leitor mais informado, significativamente limitados e, por isso, um tanto ou quanto repetitivos.