"Polyhistor", de Gaio Júlio Solino
Não nos foi fácil encontrar uma cópia desta obra, mas é uma produção literária muito interessante. De uma forma sucinta, o autor apresenta bastante informação sobre tradições culturais e locais físicos por todo o mundo da Antiguidade. Num momento conta-nos como Valério Sorano foi executado por divulgar o nome secreto da cidade de Roma; momentos depois, refere como uma dada Fausta deu à luz dois pares de gémeos ao mesmo tempo; mais à frente, revela que as cigarras da Lócrida não cantavam porque Hércules um dia lhes pediu que fizessem menos barulho; e que o túmulo de Zeus, em Creta, estava localizado no Monte Ida; ou até que no 800º ano após a fundação de Roma [i.e. 48 d.C.] uma Fénix foi capturada e posta em exibição em Roma.
Mas, a título de curiosidade, deixe-se por cá um exemplo mais concreto e prolongado. Ao longo da sua obra Solino vai descrevendo vários locais, até que chega à "nossa" Lusitânia. Primeiro refere o promontório Artabrum, "que divide terra, céus e mares", e que é hoje o Cabo Finisterra.
Depois, refere que Olissipo foi fundado por Ulisses. Continua, acrescentando que o Rio Tejo é na Lusitânia e é famoso pelas suas areias douradas. É curioso o facto de ele não relacionar as duas afirmações, ou seja, nunca diz que Olissipo é banhado pelo Tejo, o que nos leva de volta ás linhas de Estrabão sobre o mesmo tema.
Para terminar, conta a já-famosa história dos cavalos lusitanos, que diz ter lugar "numa área próxima de Olisipo". E assim é a Lusitânia, para este autor.
No seu geral, esta obra de Solino está repleta de informação antiquária, preservando até a referência a muitos mitos que não parecemos conhecer de nenhum outro lado. Infelizmente, o autor também nem sempre nos conta a totalidade dessas tramas, limitando-se a fazer-lhes breves alusões, o que acaba por ser tanto tantalizante como frustrante para o leitor.