Porque é que os ciganos não gostam de sapos?
Afinal de contas, porque é que se pensa que os ciganos não gostam de sapos? Há alguns dias fomos contactados por uma publicação nacional que nos queria colocar essa questão curiosa. Assim, fomos levados a questionar essa ideia - será que eles temem esses animais, apenas não gostam deles, ou a realidade até é completamente diferente? Do que os ciganos têm medo... será mesmo de sapos, como a cultura popular portuguesa frequentemente nos diz?
Infelizmente, por muito que tentássemos nunca conseguimos encontrar qualquer mito ou lenda concretos que justifiquem esse suposto temor. Porém, como evidenciado pela prática corrente em muitas lojas portuguesas, que usam um sapo de louça para tentar afastar os ciganos dos seus recintos, na verdade esta crença não passa por terem medo do pequeno animal, em si mesmo, mas de uma ideia que este lhes parece sugerir. E, pergunte-se então, que ideia grotesca é essa?
Essencialmente, e segundo foi possível apurar, em alguns dialectos da língua romani, ou dita "cigana", a palavra beng significa tanto sapo como diabo. Por isso, para este povo olhar para a figura de um sapo poderá ser equacionado a evocar o diabo, o que, por sua vez, empresta a sua protecção a um determinado local; e se essa figura tão bem conhecida na nossa cultura até não tem na cultura deles precisamente o mesmo simbolismo que na cristã, não deixa de ser temida.
Trata-se, portanto, de uma inferência sapo -> beng -> diabo, propiciando o afastamento dos ciganos tal como aconteceria no nosso caso se, por exemplo, alguém colocasse à porta da sua loja uma imagem que consideramos particularmente ofensiva ou chocante. Não é totalmente correcto dizer que eles têm verdadeiramente medo desse animal, mas sim que o evitam como também nós procuraríamos evitar alguma ideia que consideramos menos positiva, e.g. um local em que se realizam rituais "maléficos" de alguma seita brasileira.