Porque escrevemos Sintra e não Cintra?
Será que a famosa vila de Portugal deve ser chamada Sintra ou Cintra? Hoje é usada quase exclusivamente a primeira dessas formas, mas a outra também já foi bastante utilizada no passado. E porquê? A explicação de hoje provém de uma nota sublime nas Religiões da Lusitânia, de Leite de Vasconcelos, com algumas ligeiras adaptações:
No séc. XVI, em virtude da confusão que na pronúncia do sul se estabelecia entre S e Ç, a palavra Sintra começou a pronunciar-se Cintra. Por isso os eruditos e poetas, que sabiam que aí tinha existido em épocas remotas o culto da Lua, mas que não sabiam que as explicações filológicas devem basear-se em documentos mais sólidos que os que provêm de mera fantasia, admitiram relações fonéticas entre Cintra e Cynthia, um dos epítetos latinos de Diana, deusa lunar [romana]. É assim que numa carta dirigida por el-rei D. Sebastião ao Pontífice, em 1570, se lê "Sintiae" (...), forma que tem da antiga o S, e da latina a terminação. Fr. Amador Arraiz (...) escreve Syntra e, falando de Scynthia, forma em que concorre o S e o C, diz «isto é, da Lua».
Esta falsa teoria continuou a vigorar nos séculos seguintes, até hoje. Na nota 110 da Henriqueida, poema de D. Francisco Xavier de Meneses, lê-se : «Cintra deve escrever-se com C, e não com S, porque lhe deu o nome Cinthia, que é a Lua, a quem este monte era dedicado». (...) E mais citações podiam ainda fazer-se. Do que fica dito nesta nota resulta:
1.°, Que a antiga ortografia, e portanto a preferível, é Sintra;
2.°, Que a ortografia Cintra é moderna, e devida a falsas ideias históricas de eruditos e poetas.
Interessante, não é? Mas, para mais curiosidades sobre a bela Sintra, pode sempre ser visitada ali a página do Caminheiro de Sintra.