Porque é que os padres não podem casar?
Um dos elementos da religião cristã que ainda hoje tem muita discussão nos nossos dias é a impossibilidade de os padres casarem. Mas afinal, porque é que os padres não podem casar? Podem ser dadas muitas justificações em favor e contra essa ideia, mas aqui interessam-nos é especialmente as razões históricas para essa decisão.
Essencialmente, a ideia parece dever-se ao facto de, tradicionalmente, se considerar que os apóstolos (com excepção de Pedro) não casaram nem tiveram filhos. Eles dedicavam-se quase somente a espalhar a mensagem de Jesus Cristo. De igual forma, também se dizia que o próprio fundador do Cristianismo nunca casou nem teve filhos (e nenhuma fonte completa da Antiguidade argumenta o contrário). "[A necessidade de castidade] foi ensinada pelos apóstolos e a antiguidade [assim o] preservou", é até dito no Sínodo de Cartago, ainda nos primeiros séculos da nossa era.
Além disso, um passo especialmente importante pode ter sido dado no Primeiro Concílio de Niceia, em que foi decretado que nenhum clérigo poderia ter uma mulher a viver em sua casa, excepto se se tratasse de alguém acima de qualquer tipo de suspeita (como uma mãe ou uma irmã). As razões para tal? "Com essas armas o diabo mata religiosos (...) e incita neles os fogos do desejo". Se, nessa altura, alguns religiosos (em função da sua baixa posição na hierarquia, i.e. se fossem subdiáconos, diáconos ou presbíteros) até podiam ser casados, tinham de o fazer antes de seguirem a vida religiosa, já então se pondo a questão do que, posteriormente, deveria acontecer ás respectivas esposas. Pelo menos um tal Pafnúcio de Tebas parece ter argumentado que apenas deviam continuar o celibato aqueles que já o tinham antes de seguirem a via religiosa, e nesses primeiros tempos a sua opinião foi crucial...
Mas será esta uma proibição que faz sentido? De um ponto de vista teórico cremos que sim - se um clérigo se deve dedicar à Igreja e a toda a humanidade, seria um pouco difícil que o conseguisse fazer de uma forma justa e imparcial se também tivesse uma família, somente sua, de quem cuidar. Mas trata-se - deixe-se muito claro - de uma mera questão de opinião pessoal, bastante discutível e fixa em séculos de história e tradição religiosa.