Porque têm as igrejas um galo dos ventos?
Tanto em Portugal como no Brasil é relativamente comum que as torres das igrejas tenham um galo dos ventos. Ele é uma espécie de cata-vento representado sempre em forma de este animal, que depois até também passou a ser utilizado em casas privadas, dada a sua popularidade religiosa e cultural, mas de onde vem toda esta ideia? Ou, para sermos mais precisos, porque existe esta associação de um cata-vento em forma de galo com as igrejas?
Como é bem sabido, os galos são animais relativamente comuns na cultura portuguesa - recorde-se, a título de exemplo, o tão famoso Galo de Barcelos, mas também a Missa do Galo, de que já cá falámos anteriormente - mas também o são no espírito do Cristianismo. Isto porque, conforme já foi dito em relação a essa missa natalícia, pelo menos desde o século IV da nossa era que este animal é equiparado a Jesus Cristo. Como se diz que a figura religiosa veio ao mundo para afastar as trevas do Diabo e do Pecado Original, de igual forma se acreditava que também o galo tinha o poder místico de, com o seu belo cantar, terminar as trevas da noite e ajudar ao nascer do dia, afastando igualmente aqueles demónios que se cria que povoavam a escuridão que antecedia cada novo nascer do dia.
Seguindo desse contexto, faz então todo o sentido que as igrejas tenham um galo dos ventos, por esta presença servir não só para anunciar, de forma simbólica, cada vinda de um novo dia, mas também porque, ao estarem sempre colocados no ponto mais alto de uma igreja, que originalmente até tendiam a ser o local mais elevado de uma qualquer povoação, atraíam todos os que em virtude das suas ocupações precisavam de saber mais sobre a força e direcção dos ventos. E, já que estavam no local, talvez até fossem mais à missa, o que nada tinha de negativo, bem pelo contrário...
Claro que ao longo dos tempos toda esta associação religiosa original do galo dos ventos se foi perdendo, mas a ideia de que um catavento tinha de ter a forma deste animal manteve-se até aos nossos dias de hoje, talvez por puro hábito ou por um simples prazer estético de possuir algo na sua forma mais tradicional. Duvidamos, como é natural, que quem hoje tem cataventos em sua casa - e eles ainda são frequentes em algumas aldeias por todo o Portugal - ainda pense nos versos de Prudêncio ou na metáfora dos primeiros séculos da era cristã, mas o tradicional galo parece sempre bem para esta função!