"Protágoras", de Platão
Este Protágoras, de Platão, é seguramente mais complexo que muitos outros do mesmo autor, mas também tem alguns momentos interessantes (e, ainda assim, alguns que, pessoalmente, considero aborrecidos). Aqui, Sócrates discute com o titular Protágoras sobre o que é a virtude, e se ela pode ou não ser ensinada. Inicialmente, Sócrates parece pensar que não, mas o curioso é que todo o debate leva a que, mais tarde, parte das posições das duas personagens principais se alterem: Sócrates passa a acreditar que a virtude pode ser ensinada (resumidamente, "toda a virtude é conhecimento"), enquanto que Protágoras aceita que, afinal, todas as virtudes sejam uma só.
Porém, se este texto não é fácil de ler - eu, por exemplo, jamais o recomendaria para uma leitura casual - também nele existe a referência a um mito que, no contexto deste blog, me parece ser óbvio que devo mencionar:
De acordo com as palavras de Protágoras, quando os deuses criaram os animais e os seres humanos também incumbiram Prometeu e Epimeteu de lhes dar recursos para a sua sobrevivência (velocidade, força, capacidade de voar ou de nadar, ...). Porém, Epimeteu esqueceu-se de os dar aos seres humanos, pelo que Prometeu acabou por ter de roubar o fogo e a sabedoria de Atena para os dar aos Homens. Eventualmente, estes juntaram-se em cidades, mas nem assim tinham a sua sobrevivência assegurada, pelo que Zeus enviou então um dos deuses para distribuir também justiça e pudor entre os Homens, permitindo-lhes assim sobreviver.
Este mito, muito semelhante ao do roubo do fogo por Prometeu, tem, segundo a personagem que o conta, como objectivo explicar a razão pela qual todos os seres humanos têm diferentes características (uns são médicos, outros carpinteiros, outros soldados, etc.), mas todos eles percebem de política e de justiça, ou seja, existiriam então virtudes específicas a alguns mas outras que são gerais e comuns a todos. Se ele tinha ou não razão, terão de ler a obra para descobrir...