Qual a origem dos Duendes?
Seria com todo o prazer deste mundo que hoje aqui divulgaríamos a origem dos duendes, aquelas criaturas mitológicas muito associadas à Península Ibérica, mas pouco se parece saber sobre ela. Se, por um lado, não lhes parece existir qualquer referência directa nos textos da Antiguidade - contrariamente ao que acontece com criaturas como as Fadas - por outro também fomos descobrindo algumas vagas referências à sua existência em textos pós-medievais, ao ponto de no século XVI ter existido legislação que anulava a venda de uma casa se o novo dono não tivesse sido informado que uma destas criaturas habitava no local. Por isso, o que sabemos sobre estas estranhas criaturas e a sua origem?
Na imagem acima pode ser vista uma pequena criatura que foi identificada por alguém como um duende. O vídeo de onde foi retirada foi supostamente gravado na Argentina, sendo reproduzido aqui e acolá sem que se perceba muito bem de onde vem. Será outra falcatura como a de Teresa Fidalgo? É provável que sim, mas o mais interessante sobre este exemplo é a contínua popularidade desta criatura em países em que se fala o português e o espanhol. Pode, igualmente a título de exemplo, ser visto aqui também um caso profundamente insólito, vindo de terras do Brasil:
Nessa sequência, para se tentar apurar a origem dos duendes talvez seja melhor começar pelo que sabemos sobre eles nos dias de hoje. Dicionários como os da Priberam definem este nome como o de um "Espírito sobrenatural que se supunha fazer travessuras na casa que frequentava", dando-lhe como uma espécie de sinónimo "fradinho-da-mão-furada" e "trasgo", ambos definíveis como "entidades que usam os seus poderes para fazer travessuras". Muito curiosamente, e apesar de actual, esta definição já parece ter alguns séculos, mostrando que a forma como esta criatura era imaginada se foi mantendo ao longo do tempo. Isto porque, em menções populares e obras literárias de outros tempos, as três criaturas surgem quase como sinónimos e estão quase sempre associadas a um espaço residencial, onde ora incomodam as pessoas com as suas traquinices (que raras vezes vão além de chatear alguém...), ora as recompensam por bondades que tenham realizado.
Que importância tem isto? Ao longo dos séculos esta visão horizontal dos duendes foi-se mantendo, e a forma como eles são imaginados hoje é quase igual àquela que já aparecia nas fontes literárias mais antigas que temos... o que nos permite teorizar, mas sem grandes certezas, que o seu apelo foi contínuo em virtude do facto de esta criatura habitar e se movimentar num espaço que pouco ou nada foi alterado ao longo tempo - o de nossa própria casa!
Se, caros leitores (ou leitoras, que o tempo não está para sexismos), vivem num local silencioso, certamente que já vos aconteceu acordarem a meio da noite e ouvirem alguns barulhos que não conseguem explicar. Também já vos terá acontecido, mesmo que vivam sem mais ninguém em vossa casa, terem a certeza que deixaram uma coisa num dado local, mas depois não a conseguirem encontrar... e essas coisas acontecem, segundo uma imaginação popular que se vai prolongando no tempo, em virtude da acção destas pequenas criaturas!
Mas... é apenas uma possibilidade. Só isso, porque não parecemos ter qualquer fonte literária da época que nos explique qual a origem dos duendes, sabendo apenas que eles parecem ter surgido nos meandros de uma sociedade pós-medieval muito envolvida num universo mágico de feiticeiras, demónios, aparições de santos e outras coisas que tais, que em alguns casos tiveram a sua génese em romances de cavalaria. Nesse contexto, e para os cidadãos da altura, a resposta a dúvidas existenciais tendia a ser no âmbito dessa mesma magia, e, como tal, é provável que tenham tido a necessidade de inventar, ou reinventar, uma criatura capaz de explicar o que de invulgar acontecia em suas próprias casas. E, depois, a ideia foi-se prolongando no tempo até à época em vivemos, em que os duendes parecem estar reduzidos a meras criaturas de fantasia e de desenhos animados, pelo menos até que alguém se lembre de proclamar, como em outros tempos do passado, que as coisas andam a desaparecer de uma qualquer casa porque algum duende as vai furtando...