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Mitologia em Português

26 de Setembro, 2021

Quem foi Artur do Algarve?

Há alguns dias, enquanto passávamos os nossos olhos por uma qualquer obra literária, encontrámos algo de desconhecido. Ao lado dos heróis de cavalaria do costume - os Amadis, os Palmeirins e os Quixotes, entre tantos outros - figurava o misterioso nome de um tal Artur do Algarve. Pelo contexto inferiu-se que se tratasse de um outro herói de romances de cavalaria, mas... na verdade, quem foi ele? A questão teve de nos fascinar, não só porque o seu nome conjura a ideia de um famoso rei das histórias medievais, da cidade de Avalon e de tantas outras histórias, mas porque não existem muitos heróis de cavalaria associados directamente ao nosso país.

Um possível Artur do Algarve?

Partimos então em busca dele e acabámos por encontrá-lo numa obra do século XVIII chamada La Historia de los muy nobles y valientes cavalleros Oliveros de Castilla y Artus de Algarve, da autoria de Pedro de la Floresta. É uma obra que não se destaca em nada do que constitui o seu género literário. Como episódios minimamente notáveis, podemos apenas destacar o facto de Oliveros, antes de receber a mão da princesa que ganhou num torneiro, ter pedido ao rei para cortar a carne para a sua amada durante um ano (e numa dada altura, ao trinchar uma ave até se corta num dedo...); e que a mesma personagem mata os seus dois filhos para dar o sangue dos mesmos a beber ao seu irmão, curando-o de uma enorme maleita (não se preocupem, eles são trazidos de volta à vida por milagre de Deus). Tudo o resto é aborrecimento, quando os episódios até se seguem uns aos outros sem que exista o mais mínimo interesse - a obra chega até ao absurdo de apenas dar nome a meia dúzia de personagens (resumindo todas as outras em simples "reis", "cavaleiros", "princesas" e "rainhas"), e de resumir todos os locais visitados pelo seu país...

 

E onde entra o tal Artur do Algarve? Ele é filho da segunda mulher do rei de Castela, uma tal "Rainha do Algarve", por um pai desconhecido. É a grande personagem secundária da obra, que parte em busca de Oliveros quando este desaparece e uma vasilha de água que deixou para trás se tinge de sangue, naquele que é o maior exemplo de magia presente em toda a obra. É, igualmente, uma personagem muito pouco notável, cuja grande característica definidora é somente o facto de, por razões nada claras, ser fisicamente quase igual ao herói. No caminho das suas aventuras até derrota um leão perdido por terras de Portugal, seguindo-se depois uma luta com o que parece ter sido uma espécie de hipogrifo, mas fora isso ele não faz nada de muito notável, acabando por casar com a filha de Oliveros (recorde-se que não eram mesmo irmãos de sangue, mas não deixa de soar estranho).

 

Assim, este Artur do Algarve é, pura e simplesmente, uma personagem secundária de um romance de cavalaria medíocre, mil vezes inferior ao herói e monarca que lhe deu nome. O autor da obra, esse tal Pedro de la Floresta, não parece ter publicado mais nada com o seu nome, e até se compreende bem o porquê, dada a qualidade desta composição. Por isso, se por mero acaso encontrarem uma qualquer cópia desta obra, dêem-na a um inimigo de quem não gostem mesmo nada.

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