São Malaquias e a Profecia do Último Papa
A profecia do último papa é um tema que muitos consideram intrigante — e, com o falecimento do Papa Francisco ocorrido hoje, achámos que era apropriado abordá-lo com respeito e sobriedade. Ao longo dos anos, fomos recebendo várias perguntas sobre os contornos desta curiosa previsão atribuída a São Malaquias. Por isso, decidimos revisitá-la.
São Malaquias foi uma figura religiosa irlandesa do século XII. Apesar de não lhe serem conhecidas obras literárias com autoria indiscutível, no final do século XVI surgiu um texto que lhe foi atribuído: a Prophetia Sancti Malachiae Archiepiscopi, de Summis Pontificibus (ou, em português, A Profecia do Arcebispo São Malaquias, dos Sumos Pontífices). Essa obra apresenta uma lista de papas, começando em Celestino II, no século XII, e supostamente quase que terminando com o Papa Francisco — cada um acompanhado por um breve lema simbólico, como “Ex castro Tiberis” ou “Gloria olivae”.
O que torna esta lista especialmente relevante hoje é o facto de, após a referência ao Papa Francisco, aparecer uma secção final que tem sido amplamente interpretada como a profecia do último papa. Reproduzimos aqui o trecho final da obra, tal como publicada pela primeira vez em 1595:
[...]
De labore solis.
Gloria olivae.
In psecutione. extrema S.R.E. sedebit.
Petrus Romanus, qui pascet oves in multis tribulationibus: quibus transactis civitas septicollis diruetur, & Iudex tremendus iudicabit populum suum.
Finis.
Traduzido, este trecho anuncia: “Na perseguição final da Santa Igreja Romana se sentará. Pedro Romano, que apascentará as ovelhas em muitas tribulações: após as quais a cidade das sete colinas será destruída, e o grande juiz julgará o seu povo.”
Este momento, associado ao juízo final, dá força à ideia de que São Malaquias teria previsto não apenas todos os papas até ao presente, mas também o derradeiro papa da história. Daí o nome com que este episódio é frequentemente conhecido: a profecia do último papa.
Mas será que essas últimas frases da lista - uma frase contínua, ou duas separadas por um inexplicável ponto - representam uma ou duas figuras distintas? Estão a concluir a sequência iniciada com os papas anteriores, ou são uma nota à parte, relativa apenas a um distante fim dos tempos, em que um tal Pedro Romano (ou Pedro de Roma), virá a ocupar a cadeira papal? São estas as perguntas que têm alimentado o debate em torno desta profecia.
Diz-se que São Malaquias teve uma visão mística em que lhe foram revelados todos os papas da história da Igreja — e que, por isso, a sua profecia termina apenas com o fim dessa sucessão. Se assim for, o Papa Francisco terá sido o antepenúltimo… ou mesmo o penúltimo papa, dependendo de como se lê tudo isto. Inquietante!
Mas será esta antiga profecia do último papa verdadeira? Ou não passará tudo de uma criação muito posterior à vida de Malaquias, de finais do século XVI, sem qualquer fundamento profético? Hoje, mais do que nunca, essa pergunta volta a ecoar. E talvez o tempo, como sempre, nos traga a resposta...