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Mitologia em Português

14 de Fevereiro, 2022

Seguis, Valença e "A Chantar m'er" (de Beatriz de Dia)

Hoje, por uma certa falta de tema, falamos de Seguis e Valença (ou Valenza, como escrevem outros). Mas talvez devamos clarificar - na verdade não nos faltavam temas, mas faltava era um que estivesse relacionado com São Valentim, o amor, e que também saísse fora dos típicos moldes de Romeu e Julieta ou de um "e viveram felizes para sempre". Lembrámo-nos, portanto, deste estranho caso de amores medievais, agora remetido para pouco mais do que uma breve nota numa página com centenas de anos.

Beatriz de Dia, que um dia cantou sobre Seguis e Valença

Se as histórias de amor medieval são infindáveis e vão desde Floris e Brancaflor até muitas outras figuras, de que a de Lancelot e Guinevere será provavelmente a mais famosa dos nossos dias, Seguis e Valença apresentam-se como dignos de nota pelo facto de já não sabermos absolutamente nada sobre eles. Dois poemas da época mencionam-nos, pelo contexto depreende-se que se tratassem de um par amoroso - no seu belíssimo A Chantar M'er Beatriz de Dia diz a um seu amado que "amo-te mais do que Seguis amou Valença" - mas já nada mais sobre eles parece ter chegado aos nossos dias. Nem sequer sabemos se a sua fama foi apenas local, ou se um destino estranhamente assustador fez perder todos os manuscritos desta história... e portanto, falámos aqui deles, mais que tudo, como uma espécie de porta para o belíssimo poema A Chantar M'er, de Beatriz de Dia.

 

Que tem de especial, esta construção poética de outros tempos, perguntam? É, como sempre lemos e ouvimos dizer, o único poema de uma trovadora francesa medieval - ou trobairitz, se preferirem essas palavras mais complicadas - que nos chegou completo com a respectiva música. E é um poema belíssimo, até porque fala de um amor não correspondido de uma mulher por um homem (a identificação com um homem real já nos transcende, porque nestas coisas é sempre difícil saber onde termina a liberdade poética e começa a realidade), em que parte das palavras originais, no.m val merces, ni cortesia, ni ma beltatz, ni mos pretz, ni mos sens - que poderíamos adaptar muito rudemente como "não me valeram o charme, a cortesia, a beleza, a honra ou a inteligência" - rapidamente encontram eco no sofrimento amoroso de uma traição dos nossos dias de hoje. Mas deixemos, neste término das linhas de hoje, o poema e a sua música falarem por si mesmos.

Para quem quiser a letra e respectiva tradução portuguesa, estão ambos embutidos no próprio vídeo.

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